Correio Braziliense, n. 21540, 08/03/2022. Mundo, p. 3

União Europeia abre as portas



Em meio ao acirramento da invasão russa, os países da União Europeia (UE) concordaram, ontem, em iniciar o processo de análise do pedido de adesão da Ucrânia, feito em caráter especial. Por conta da guerra, que entra hoje no 13º dia, Kiev solicitou admissão imediata pelo bloco europeu, por meio do que chamou de um "procedimento especial" — embora tal mecanismo não esteja previsto nas regras.

A excepcionalidade da situação, porém, surtiu efeito e o requerimento deve ser discutido "nos próximos dias", segundo anunciou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em uma rede social. Na publicação, o ex-premiê belga destacou que a UE "se posiciona com firmeza junto aos esforços da Ucrânia para aliviar sofrimentos humanitários infligidos pela agressão russa e para garantir segurança nuclear".

"A solidariedade, amizade e assistência sem precedentes da União Europeia para com a Ucrânia é inabalável", disse Michel, responsável pela agenda política e prioridades do bloco europeu. Ele contou ter conversado ontem com o presidente russo, Vladimir Putin, a quem pediu o fim do conflito.

Normalmente, o processo de adesão de um país exige a negociação de um plano de reforma muito detalhado que costuma levar vários anos. Além do pedido ucraniano, também houve consenso para o início das solicitações de filiação formuladas pela Geórgia e Moldávia.

Com o acordo, os países-membros vão, agora, convidar a Comissão Europeia a apresentar um parecer sobre cada uma das candidaturas para decidir sobre a concessão do status de países candidatos. Dessa forma, a Comissão Europeia terá que se pronunciar sobre cada demanda separadamente, na primeira etapa de um longo e complexo processo que em seu capítulo final exige o voto unânime dos 27 Estados-membros do bloco.

Atualmente, Albânia, Macedônia do Norte, Montenegro, Sérvia e Turquia são formalmente reconhecidos como países candidatos. No caso turco, as negociações se arrastam há mais de duas décadas e estão praticamente paralisadas desde 2016.

Sanções

Em outra frente, potências ocidentais estão determinadas a aplicar novas sanções. Após uma reunião por videoconferência, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron; o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmaram, em nota, "determinação a continuar aumentando os custos para a Rússia pela invasão da Ucrânia, não provocada e injustificada".

Os aliados mantiveram uma frente unida nas sanções contra a Rússia por invadir a Ucrânia, mas ontem surgiram rachaduras sobre a perspectiva de um embargo às importações de petróleo e gás russos, medida à qual a Alemanha, que depende do combustível russo, se opõe.

A declaração, publicada em Berlim após a reunião, não menciona sanções e se concentra nas preocupações com a ajuda humanitária às áreas sitiadas, das quais os líderes também falaram. Em Washington, Joe Biden está sob crescente pressão dos congressistas americanos para cortar a principal fonte de renda do governo Putin. Os Estados Unidos, um dos principais produtores de petróleo, importam pouco óleo russo e o chefe da Casa Branca, ao ser questionado se o petróleo poderia ser o próximo alvo, disse que "não descarta nada".

Mesmo com toda a pressão da comunidade internacional, Macron não acredita que seja possível negociar uma "solução real" para conflito. "Sou lúcido: no curto prazo, a guerra vai continuar sendo travada", disse.