Título: De volta ao olho do furacão
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/09/2005, País, p. A3

Uma semana depois do surgimento das denúncias de recebimento de propina, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), admitiu ontem pela primeira vez a possibilidade de se licenciar do cargo. A situação de Severino se agravou na quinta-feira, quando o empresário Sebastião Buani, dono do restaurante Fiorella, confirmou ter pago R$ 110 mil para Severino entre 2002 e 2003, quando ele era o primeiro-secretário da Casa. Em troca, Severino prorrogaria por três anos a concessão do restaurante.

Severino antecipou em 24 horas o retorno de Nova York para Brasília em função do agravamento de sua situação política e embarcou ontem, no fim da tarde. Em entrevista coletiva concedida logo depois de seu discurso na 2ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamentos, não descartou a possibilidade de deixar temporariamente a presidência. Para aliados já admitiu abertamente a possibilidade.

Na coletiva, pela primeira vez Severino falou mais longamente sobre a denúncia de que teria extorquido Buani para renovar a concessão de exploração de um restaurante na Câmara.

Ele voltou a negar as acusações e se disse ''indignado'' e ''revoltado'' com sua repercussão. Repetiu várias vezes que tem 42 anos de vida pública e que nunca foi alvo de denúncias. Questionado sobre se poderia renunciar ao cargo ou ao mandato, voltou a negar com veemência:

- Renúncia não existe. Não conheço esta palavra.

Ao contrário da véspera, Severino não refutou a possibilidade de se licenciar.

- Isso aí quando eu chegar ao Brasil eu informarei. Irei conversar com os meus auxiliares em Brasília, onde vou tomar conhecimento de todas as denúncias - disse.

Severino foi aconselhado a conversar com pessoas no Brasil em quem confia, como o deputado e ex-ministro Francisco Dornelles (RJ), que é de seu partido. Na terça-feira haverá uma reunião da Mesa Diretora da Casa, depois da qual, de acordo com pessoas próximas, ele deve anunciar a decisão.

Na entrevista, Severino chegou a se emocionar ao dizer que não admite ''ser tratado como alguém que mereça ser castigado'':

- Não aceito ser enforcado antes do tempo.

Ele repetiu que as afirmações de Buani ''são mentirosas'' e acusou o empresário de mudar sua versão sobre o episódio ao longo dos dias:

- Ele deu três declarações diferentes uma da outra. Tenho 42 anos de vida pública e procurei pautar minha vida ao longo desses 42 anos como um homem correto, sério. Não se justifica agora, quando já estou completando meus 73 anos, que venha um indivíduo sem a qualificação necessária fazer afirmações sem provas - queixou-se.

Negou ainda ter assinado o documento prorrogando a concessão. E completou:

- Severino continua o mesmo, não muda.