Título: Elo entre Dantas e Valério
Autor: Hugo Marques e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 10/09/2005, País, p. A4

A CPI dos Correios encontrou ligações telefônicas da SMP&B Comunicação, de Marcos Valério Fernandes de Souza - o distribuidor do mensalão - para o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, suspeito de ser um dos financiadores do esquema corrupto. Dantas terá de prestar depoimento dia 21, na CPI do Mensalão. O elo entre Dantas e Valério surgiu na análise da quebra de sigilo da SMP&B. No dia 29 de maio de 2003 consta uma ligação da empresa de Valério para a sede do Banco Opportunity, no Rio, no local onde Dantas despacha. No mesmo dia, a empresa de Valério ligou para o Opportunity Equity Partners, gestora de recursos do grupo. No dia 10 de junho de 2003 há outra ligação da sede da SMP&B para o Opportunity Equity Partners.

As ligações entre a empresa de Valério e o Opportunity foram descobertas pela equipe da CPI que vem cruzando os dados, liderada pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Marcos Valério vinha negando qualquer contato com Dantas.

As telefônicas ligadas ao Opportunity - Telemig Celular, Amazônia Celular e Brasil Telecom - injetaram R$ 145 milhões nas empresas de Valério. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) suspeita que atrás deste suposto serviço de publicidade esteja uma fórmula para justificar a origem do dinheiro que financiou o mensalão.

A CPI está cruzando mais dados da quebra do sigilo de Valério. São ao todo 1,5 milhão de ligações para serem analisadas. Até agora, segundo os parlamentares, as informações confirmam depoimento da ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Somaggio, que afirmou que ''o pessoal'' do Banco Opportunity ''por diversas vezes'' ligou para a SMP&B tentando agendar encontros com Valério para que este intercedesse junto a políticos do PT para ''favorecer'' o banco de Dantas.

Na quebra de sigilo constam 11 ligações de Valério para José Janene (PP-PR), que teria recebido R$ 4,1 milhões do esquema corrupto, a partir de 2003.

A CPI encontrou várias outras ligações entre as empresas de Dantas com as de Valério. A partir de 2003, foram feitas mais de 100 ligações da SMP&B para a Brasil Telecom, incluindo as sedes administrativas no Rio e em Brasília. O contrato da empresa de Valério, no entanto, é com as empresas Telemig Celular e Amazônia Celular.

A quebra de sigilo mostrou mais de 50 telefonemas da Duda Mendonça & Associados e da CEP Comunicação - do publicitário baiano - para a empresa de Valério. O empresário mantinha constante comunicação com a Presidência da República e ligou mais de 600 vezes para o Planalto, a maioria a partir de 2003. Uma análise mostra que as ligações eram quase sempre para a Secretaria de Comunicação da Presidência.

A CPI encontrou dezenas de ligações da empresa de Valério para a sede do PT em Brasília. Ele recebeu 30 telefonemas do edifício-sede do Banco Central e ligou seis vezes para o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, desde o fim do ano passado.

Esta semana, o Congresso poderá avançar nas investigações. Está previsto o depoimento de João Cláudio Genu - chefe de gabinete do deputado Janene, no Conselho de Ética. Deverá depor esta semana, na CPI dos Correios, o assessor especial da Presidência Luiz Gushiken.