Título: Paulo Maluf atrás das grades
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Fonte: Jornal do Brasil, 10/09/2005, País, p. A7
A juíza Silvia Maria Rocha da 2ª Vara Criminal de São Paulo decretou na noite de ontem a prisão preventiva do ex-prefeito Paulo Maluf e de seu filho Flávio. Eles são acusados de crime financeiro (evasão de divisas), formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Embora alegando não ter conhecimento da decisão, Maluf se entregou à Polícia Federal no início da madrugada de hoje. Ele chegou bastante abatido à Superintendência da PF em São Paulo, carregando um mala e acompanhado de vários advogados. O ex-prefeito Paulo Maluf não sabia se teria que dividir a cela com outros presos e evitou dar declarações.
O filho, Flávio Maluf, que também teve a prisão decretada, não estava com o pai quando ele se entregou. A prisão dos Maluf foi ordenada para ¿conveniência da instrução criminal¿. Eles estariam agindo intensamente para ocultar provas ou intimidar testemunhas que podem incriminá-los na investigação sobre US$ 161 milhões que teriam enviado ilegalmente para os Estados Unidos.
A juíza acolheu denúncia apresentada pela Procuradoria da República e abriu processo contra os Maluf e também contra o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, e o ex-tesoureiro da empreiteira Mendes Júnior, Simeão Damasceno de Oliveira.
A decisão do MP de pedir a prisão se baseia em escutas telefônicas que revelam o ex-prefeito e o filho tentando impedir o depoimento do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi. Nas conversas gravadas, que embasam o pedido de prisão dos Maluf, Flávio telefonou ao menos três vezes para o doleiro, a quem convidou para uma conversa. Num dos diálogos, Flávio, após referir-se a Birigüi como ¿amigo¿, pediu que não se esquecesse da conversa.
¿ Garanto o que conversamos, e a forma, entendeu? É o melhor para você. Te garanto. ¿ disse Flávio ao doleiro.
Num outro diálogo, desta vez com seu pai, Flávio disse qual era a orientação a Birigüi: ¿Entra mudo e sai calado¿.
O suposto suborno pelo silêncio, teria sido feito por um dos advogados de Maluf em reunião marcada a pedido de Flávio com o doleiro. Birigüi, apontado como operador do dinheiro da família no exterior, disse ter movimentado pelo menos U$ 161 milhões por meio da conta Chanani, do Safra National Bank de Nova York (EUA). Ele afirmou que o dinheiro era de Maluf e do filho.
Segundo o ex-diretor da Mendes Júnior, também apontado como réu, o dinheiro que abasteceu contas dos Maluf no exterior foi desviado de obras públicas durante a gestão dele na Prefeitura de São Paulo (1993-1996). Damasceno de Oliveira foi denunciado pela Procuradoria por ter supostamente divido a propina e o doleiro pela movimentação irregular de dinheiro no exterior.
Para o doleiro, a Procuradoria pediu a delação premiada, com a vantagem de ter a pena reduzida, porque ele ajudou a investigação. As informações de Birigüi foram confirmadas.