O Estado de São Paulo, n. 46682, 09/08/2021. Economia p.B8

 

Busca por maior variedade dá força às criptomoedas

Luiz Felipe Simões

Rebeca Soares

 

Uma exposição abrangente a diferentes tipos de investimento é fundamental para o investidor ter um portfólio de sucesso. E isso inclui ir além de ações, fundos e renda fixa. Na composição das carteiras, a participação de criptomoedas mostra uma tendência de forte crescimento.

Estudo realizado pela consultoria Grimpa revela que a diversificação da carteira de investimentos já está ocorrendo, com muitos investidores incluindo as criptomoedas no portfólio. A pesquisa, que ouviu 500 homens e mulheres com mais de 18 anos ao redor do País, mostra que 96% dos entrevistados já ouviram falar em criptomoedas e que 41% desse grupo já investiram em ativos digitais em algum momento.

De acordo com Marisa Camargo, sócia e diretora da Grimpa, o interesse no mercado cripto é reflexo de diferentes fatores. Além do incremento da digitalização financeira durante a pandemia, o fato de grandes investidores globais como o presidente da Tesla, Elon Musk, e o gestor Ray Dalio alardearem o advento das moedas digitais chamou a atenção de muita gente. A abertura de capital bilionária da corretora especializada em ativos digitais Coinbase na Nasdaq também colocou criptos nos holofotes.

“Tivemos uma surpresa com o porcentual de pessoas que já investiram em criptomoedas. Este comportamento reflete o que estamos chamando de um grande boom de criptomoeda no País”, diz Camargo. Entretanto, ela destaca que o brasileiro ainda está cauteloso em razão da grande volatilidade.

André Franco, analista de criptomoedas da Empiricus Research, tem uma percepção mais pragmática sobre os criptoativos. “Toda vez que temos um ciclo de alta, há entrada de novos investidores. É óbvio que existe uma parcela dessas pessoas que têm receio e, por isso, vão querer aportar por meio de fundos”, diz. Para ele, se o mercado continuar em alta, os investidores as serão atraídos de um jeito ou de outro.

 

Perfil. O estudo da Grimpa também mapeou o perfil dos investidores entrevistados. A maior parte tem disposição arrojada para investir, sendo a maioria homens entre 18 a 24 anos da classe A. As moedas estrangeiras e o ouro são os dois ativos preferidos desses investidores – respectivamente,

70% e 69% afirmaram ter aplicações nestas categorias. Já renda variável, renda fixa e previdência privada estão presentes em 53%, 41% e 49% dos portfólios dos entrevistados, em sequência.

Entre os criptoativos, algumas moedas chamam mais atenção pela rentabilidade, exposição na mídia ou indicação de influenciadores digitais. Sem surpresa, o Bitcoin é a mais famosa, apontada por 96% daqueles que já ouviram falar de criptomoedas. Em seguida aparecem Litecoin (40%), Ethereum (37%), Dogecoin (31%) e Binance Coin (31%).

A busca por boas oportunidades explica por que o tema está entre os assuntos mais comentados na internet. A procura mensal sobre criptomoedas saltou de 538 mil pesquisas para 2,3 milhões, de maio do ano passado para maio deste ano, a partir de dados de navegação, como aponta o levantamento. A maioria das pesquisas é seguida das palavras “notícias”, “corretoras” e “compras”.

O levantamento ainda apontou o “sentimento” dos usuários nas redes sociais em relação às criptomoedas entre 2020 e 2021. Os comentários considerados neutros cresceram 117% no período, ante 109% dos negativos. Por outro lado, as publicações com citações positivas aumentaram 211% de um ano para o outro.

Ainda assim, boa parte dos investidores demonstra dificuldade em entender como fazer aplicações nessa classe de ativos. A pesquisa mostra que 53% dos entrevistados que já ouviram falar em uma moeda digital não sabem por onde começar. O caminho deve ser longo, já que a metade das pessoas consultadas acredita que esse será o principal meio de transação financeira em um futuro próximo.

Para Vinicius Chagas, analista educacional da Blockchain Academy, falta conhecimento. O analista cita o exemplo do crescimento das corretoras e de produtos de investimento mais amigáveis ao investidor, com menores taxas e outros benefícios. Na visão de Chagas, isso ocorreu porque as pessoas estão mais críticas e procuram educação financeira.

Além do desconhecimento em como investir, os dois principais entraves citados pelos entrevistados são a incompreensão do que de fato é uma criptomoeda e o alto risco inerente ao mercado, mencionados respectivamente por 34% e 30% das pessoas ouvidas.

 

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Faça o que eu faço, não o que eu digo

Fabio Gallo

Diferentes pesquisas, locais e internacionais, sobre o comportamento do investidor na pandemia indicam que as pessoas aumentaram a preocupação em preparar planos para o futuro, começaram a economizar mais e buscaram conhecimento sobre investimentos.

O resultado é o aumento dos volumes poupados e o maior número de investidores na Bolsa. Muitos optaram por fazer os próprios investimentos, mesmo não tendo formação em áreas de gestão ou economia.

Uma maneira encontrada para desenvolver métodos de investimentos foi buscar dicas de especialistas. Obviamente, existe muita coisa boa no ambiente virtual, mas também dicas questionáveis. Numa troca de ideias com meu colega William Eid, achamos interessante conferir o que grandes nomes do mundo financeiro dizem sobre investimentos e o que fazem na prática.

Fomos verificar o pai da chamada Moderna Teoria de Finanças, Harry Markowitz, que desenvolveu em 1952 a teoria de otimização da carteira de investimentos usando retornos, volatilidades e correlações. É um modelo muito elegante e que nos traz entendimento de como ocorre o equilíbrio entre risco e retorno. No entanto, em entrevista sobre como ele tratava seus próprios investimentos, a resposta foi que alocava partes iguais dos recursos em diferentes ativos.

Em resumo, ele não usava sua própria criação teórica porque ela não funciona. Seria possível usarmos todo o conjunto de explicações técnicas para justificar essa posição mas, para simplificar, o modelo constrói a carteira de investimentos como base em determinado retorno esperado e buscando o menor risco possível. Para essa construção é preciso estimar os valores esperados dos retornos, volatilidades e correlações de todos os ativos em análise.

Imagine fazer isso para uma carteira com dezenas de ativos. Seriam necessárias centenas de estimativas e num ambiente de mercados tão imprevisíveis, voláteis e incertos, com base em dados passados. Pior ainda, no mundo pós-pandemia. Como sabemos: o futuro é incerto e o passado não se repete. Algo mais simples e natural de ser aplicado é construir a carteira pela pirâmide de objetivos.

Assim, a cada objetivo estabelecido deve ser associado uma parcela do capital. De forma que, para objetivos de mais curto prazo e maior importância, devem ser associadas aplicações de menor grau de risco e maior liquidez. Um primeiro objetivo é uma reserva de emergência que deve estar vinculada a um fundo de renda fixa com liquidez diária. A aposentadoria, admitindo-se que ainda esteja mais distante, é um objetivo que pode estar atrelado a algo com mais risco e menor liquidez, como um fundo multimercado.

Os outros objetivos devem ser pensados da mesma forma. A pirâmide terá na base objetivos de manutenção da riqueza com ativos de menor risco, conforme formos subindo podemos atrelar objetivos com investimentos de diversos graus de risco e no topo buscando ganhos com oportunidades com maior grau de risco.