Título: Combustível para reajustes
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 10/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

Depois de 10 meses sem reajustar os preços dos combustíveis no país, a Petrobras anunciou ontem os aumentos, a partir da zero hora de hoje, da gasolina (10%) e do óleo diesel (12%). Motivada pelo aumento de 44% nas cotações do petróleo no mercado internacional nos últimos 12 meses, a decisão resultará em um impacto de 0,3 ponto percentual sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado como referência para a meta oficial de inflação. Mesmo assim, especialistas afirmam que um reajuste neste momento não ameaça o cumprimento da meta de 5,1%, uma vez que será diluído nos índices de setembro e outubro. O presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Luiz Gil Siuffo Pereira, se disse surpreso com a decisão da Petrobras, em função principalmente do momento político do país. Ele calcula que, para o consumidor, na prática, o reajuste terá impacto de 7% para a gasolina e de 9% para o diesel, uma vez que os impostos são recolhidos pelas refinarias.

O último reajuste ocorreu em 26 de novembro do ano passado, quando a Petrobras aumentou o preço da gasolina nas refinarias em 4,2% e o do diesel em 8%. O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), calcula que, mesmo com o reajuste, ainda persiste a defasagem entre os preços mundiais do petróleo e o dos derivados no Brasil. Ele calcula que a diferença esteja em 14% para o diesel e 22% para a gasolina.

Isso, segundo Pires, não quer dizer que a empresa tenha que promover novos reajustes, embora não descarte tal hipótese. Dependendo dos desdobramentos da situação do petróleo e do câmbio, a empresa poderá adotar novo aumento. Isso ocorreria provavelmente em novembro, mês que já não seria contabilizado no índice da inflação deste ano.

O coordenador de Pesquisas do Instituto Fecomércio-RJ, Paulo Bruck, calcula um impacto de 0,3 ponto percentual sobre o IPCA, diluídos entre setembro e outubro. Ele pondera, no entanto, que a meta de inflação não deverá ser comprometida, uma vez que as projeções de preços já levavam em consideração esse novo reajuste. Para Bruck, a decisão da estatal deve ter sido motivada pelos efeitos do furacão Katrina, que elevaram as cotações do barril para US$ 70 em Nova York.

Segundo Pires, esse fenômeno ocorreu justamente em agosto, mês em que, no Brasil, a crise política elevou a cotação do dólar frente ao real. Com isso, lembrou Pires, a Petrobras perdeu o câmbio como amortecedor para a alta do petróleo no mercado internacional.