Correio Braziliense, n. 21541, 09/03/2022. Economia, p. 9

IPI é menor, mas o preço...

Maria Eduarda Angeli*


A redução de 18,5% no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) vai resultar em queda de apenas 1,4% a 4,1% nos preços dos veículos, de acordo com projeção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O resultado no valor dos automóveis dependerá do modelo e tipo de combustível. Apesar disso, comprar um carro novo continuará sendo um forte golpe no bolso do consumidor.

De acordo com o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, "várias montadoras já anunciaram parte dessa redução em vários modelos". Ele esclareceu, porém, que o recuo não é garantido. "Algumas empresas têm margem maior de lucro e podem reduzir mais, outras não. O preço é sugerido pelas montadoras, mas não necessariamente as concessionárias vão acatar", ressalta.

Para os veículos movidos a gasolina e etanol, a redução de preço prevista é de -1,4% a -4,1%; no caso de modelos a diesel, de -1,6% a -4,1%. Em carros elétricos, a queda pode ir de -1,4% a -3,2%; E para os híbridos e plug-in, ficar entre -1,7% e -3,2%.

Segundo Moraes, a medida terá impacto reduzido por ser adotada em meio à guerra no Leste Europeu. O conflito tem pressionado a inflação, além de prejudicar o fornecimento de peças. Assim, para o presidente da Anfavea, mesmo que haja uma diminuição de preço, os custos ao consumidor podem se recuperar muito rapidamente.

Popular a R$ 72 mil

A tendência de alta nos automóveis ficou mais intensa com a pandemia do novo coronavírus. A estratégia de muitas marcas envolvia investir em carros "populares", compensando o lucro baixo com a grande quantidade de vendas. Mas as restrições sanitárias acabaram diminuindo essa demanda. Além disso, houve elevação nos preços de insumos para a produção dos veículos. "Teve uma quebra da cadeia, alta do dólar. O preço do aço e derivados de plástico aumentaram", argumentou Luiz Carlos Moraes.

Outro fator são as normas a respeito da equipagem dos veículos, mais exigentes atualmente. A legislação que trata da emissão de poluentes mudou em 1º de janeiro, obrigando os automóveis a terem mais tecnologia para ajudar no controle dessas liberações. "Não existem mais aqueles carros populares de antigamente, que eram pelados. Tudo isso pressiona o preço do carro", detalhou o presidente da Anfavea.

Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), esse foi o pior bimestre para o setor desde 2005. Foram 120.200 emplacamentos de carros de passeio e comerciais leves no segundo mês do ano — defasagem de 24,4% em relação ao mesmo período de 2021. No entanto, a entidade afirma que não é possível dizer concretamente se o cenário permanecerá estável com o desenrolar da guerra.

Millena Campello, de 22 anos, está quase desistindo de procurar um carro em razão dos preços altos. A estudante relatou que prefere evitar o transporte público por causa da pandemia de Covid-19. Ficou, portanto, "refém" das viagens com motoristas de aplicativo. A escolha compromete parte significativa do seu orçamento. "Aí, pensei que eu poderia comprar meu carro próprio, mas quando pesquiso o preço, há carros populares por 72 mil reais", lamenta. (*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza)