O Estado de S. Paulo, n. 46656, 14/07/2021. Política, p. A12

Vereador elogia ‘alma branca’ de Pitta

Bruno Ribeiro


O vereador paulistano Arnaldo Faria de Sá (Progressistas) foi acusado de racismo, anteontem, ao dizer que o exprefeito de São Paulo Celso Pitta (1946-2009) era "um negro de verdade, um negro de alma branca". A declaração, feita durante a sessão plenária e com transmissão ao vivo, gerou protestos de parlamentares de vários partidos, como PSOL, PSDB, PT e Novo, além de uma exigência de retratação, ainda na sessão, pelo presidente da Câmara, Milton Leite (DEM).

A frase foi dita durante um discurso em que Faria de Sá pretendia defender Pitta, que chegou a enfrentar um processo de impeachment. "Fui secretário de Governo dessa cidade, e secretário de Governo num momento em que eu me preocupei com o negro, que era o Pitta, prefeito da capital que estava sendo escorraçado, estava sendo atacado... eu vim ser Secretário de Governo e acabei superando as dificuldades daquele momento. Derrotei o impeachment e ele levou seu mandato até o final. Eu estava preocupado com um negro de verdade, um negro de alma branca, como as pessoas costumam dizer", afirmou.

Uma representação contra Faria de Sá foi protocolada ontem na Corregedoria da Casa, assinada pela vereadora Luana Alves (PSOL). "Uma fala racista como esta é inadmissível nesta casa", disse Luana, que classificou o ato cometido por Faria de Sá como crime.

O documento será analisado pelo corregedor da Câmara, vereador Gilberto Nascimento (PSC), que deve nomear um relator entre os sete membros da Corregedoria. O relatório terá de passar pelo órgão e ir a plenário para aprovação dos demais vereadores (exceto a autora do pedido). A punição pode ser de advertência, suspensão e até cassação de mandato – esta última solicitada no requerimento de Luana. Segundo parlamentares de diferentes partidos ouvidos pela reportagem, há clima para que alguma punição seja aplicada ao vereador.

Repúdio. Ainda durante a sessão, a primeira vereadora a criticar a fala foi Elaine do Quilombo Periférico (PSOL). "Mais uma vez venho pedir respeito para os vereadores para que não utilizem falas racistas neste plenário. Dizer que um negro para ser um bom negro precisa ser um negro de alma branca é uma frase absolutamente racista e inaceitável", disse. Ela teve apoio das vereadoras Luana Alves e Cris Monteiro (Novo).

Inicialmente, vereadores como Adilson Amadeu (DEM) e Carlos Bezerra Júnior (PSDB) chegaram falar em defesa de Faria de Sá, dizendo que a expressão poderia estar descontextualizada e que era preciso ouvir o trecho da fala do parlamentar mais uma vez.

Foi quando a vereadora Luana Alves passou a mostrar um áudio com a frase aos colegas. "Esta presidência ouviu o áudio e se sente ofendida. É uma fala absolutamente racista", disse o presidente Milton Leite. A partir daí, uma série de vereadores pediu a palavra para manifestar repúdio, a começar pelo próprio Bezerra. "Quero manifestar meu repúdio", disse.

Após a reação, Faria de Sá pediu a palavra para se retratar. "Realmente me equivoquei e peço desculpas. Não quero discutir com ninguém, só quero pedir desculpas humildemente", afirmou. Mesmo assim, continuou a ser alvo de repúdio. Marlon do Uber (Patriota) disse, já após o pedido de desculpas, que quem comete crimes pode se arrepender, "mas tem que pagar".

Desculpas

"Realmente me equivoquei e peço desculpas. Não quero discutir com ninguém, só quero pedir desculpas humildemente."

Arnaldo Faria de Sá

(Progressistas)

Vereador de São Paulo