Título: PT já fala em cenário para 2006
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2004, País, p. A-4

A poeira das eleições municipais nem assentou ainda e o PT já começa a pensar - e falar - em 2006. Ontem, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), traçou um cenário favorável para a reeleição do presidente Lula, daqui a dois anos.

- Senti na bancada governista uma coesão muito maior após as eleições, um sentimento forte em relação ao projeto de 2006. O presidente Lula sai muito fortalecido como um pólo alternativo, no sentido da reeleição - garantiu Mercadante.

Para o petista, a força e o prestígio político do presidente Lula servirão para solidificar ainda mais as relações do Planalto com seus aliados no Congresso. Mercadante lembrou que, em 2006, um terço dos senadores buscará a reeleição e, dentre os dois terços restantes, boa parte tentará os governos estaduais.

- Como o presidente Lula aparece com muita densidade eleitoral, isso favorece a aglutinação e a composição - apostou.

O líder do governo também acredita que haverá menos resistências nas votações do Senado. Lembrou que os debates em torno das PPPs estão fluindo normalmente, o que facilitaria um acordo ou, pelo menos, o encaminhamento da matéria para o plenário.

Mercadante considera que o partido teve êxito nas eleições municipais, ao eleger nove capitais, dobrar o número de cidades administradas, aumentar a sua participação no cenário nacional e dobrar o número de vereadores. Admitiu, contudo, derrotas em algumas cidades importantes.

- Mas não acho que o resultado das eleições se deva ao cenário nacional. Ao contrário, isso só ajudou. O país está crescendo, gerando empregos, o momento é de retomada da produção industrial e agrícola - comemorou.

Tanto otimismo foi motivo para ironia do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Para o tucano, o PT não pode começar a pensar em uma eleição apenas três dias depois da anterior ter se encerrado.

- Que tal se eles governassem um pouquinho entre as duas? Será que consideram governar uma atitude tão reles assim? - devolveu.

O líder do PSDB cobrou autocrítica do PT. Lembrou que, apesar de os petistas terem crescido, perderam as duas ''jóias da coroa'' - Porto Alegre e, principalmente, São Paulo.

- Eu não quero que eles tirem o salto alto. Mas troquem o salto 15 por um sete e meio. É incômodo ir ao cinema com uma mulher quatro palmos mais alta do que você. Todo mundo fica olhando - zombou Virgílio.

O senador lembrou que a mesma soberba e arrogância atacou o PSDB após as eleições de 2000, quando o partido conquistou o bicampeonato como a legenda campeã de votos no país. Este ano, perdeu o posto para o PT.

- Eu sou o primeiro a dar uma ducha de água fria no meu partido. Tivemos vitórias importantes, mas devemos ser sérios, humildes e criativos - filosofou Virgílio.