Título: Na caça ao voto, métodos se parecem
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 11/09/2005, País, p. A6

A claque contratada pelo PT para aplaudir Lula, no lançamento das obras da estrada que vai ligar o Brasil ao Peru, trouxe de novo à tona práticas e métodos polêmicos normalmente associados a outros políticos. O ex-governador Anthony Garotinho, por exemplo - um dos prováveis contendores de Lula na campanha de 2006 - também costumava ser apontado como arregimentador de militantes, conduzidos em ônibus, para incrementar atos de interesse da administração fluminense. A crise política a cada dia joga o presidente para mais perto de uma parcela do eleitorado que é especialidade de Garotinho: as classes D e E. Desde o início da estagnação econômica, nos anos 80, essas camadas se tornaram crescentemente decisivas nas eleições presidenciais. Assim como aconteceu com o ex-governador, Lula hoje enfrenta a cara feia da classe média intelectualizada, decepcionada com o mensalão.

Os chamados grotões ainda representam mais de 40% do eleitorado e juntamente com os bairros pobres e a periferia miserável das metrópoles significam em torno de 60% dos votos. Na avaliação de um experiente especialista em pesquisas eleitorais, Lula passou por três momentos diante da perspectiva de 2006: no início do governo era candidato imbatível à reeleição; depois - com os problemas de gestão - virou favorito, e mais recentemente ficou nivelado a adversários considerados fortes. Em vez de lançar mão de discursos repetitivos e às vezes demagógicos, Lula deveria se aproximar do povo ''mas na qualidade de estadista'', abandonando os atuais ardis - sugere o especialista.

O cientista político Geraldo Tadeu, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, lembra que as classes D e E não estão em condições de absorver e se interessar por discursos ideológicos:

- Elas querem saber se a vida delas vai melhorar.

Uma preocupação deve perseguir o presidente: solidificar a crença da maioria da população de que ele não está envolvido nos escândalos e que foi traído, pelos auxiliares - avalia Tadeu.

Garotinho provavelmente se apresentará enfrentando o ''presente'', representado por um governo em crise e o ''passado'' tucano, já condenado na urnas pela vitória de Lula. José Serra caso resolva mesmo concorrer, deve receber de volta os votos da classe média e de setores do empresariado que resolveram apostar em Lula. Os adversários, no entanto, vão explorar a sua eventual saída da prefeitura de São Paulo, afirma Geraldo Tadeu.

Parte dos votos da classe média e das camadas desiludidas com o PT deverá ser repartida também com candidatos mais à esquerda e outros mais moderados que venham a concorrer. O professor de ciência política da UFRJ Charles Pessanha é mais cauteloso em relação à desilusão da classe média com o governo e com o PT:

- Ela está dividida. Há setores que não abandonarão o PT. Consideram os ideais mais relevantes que os acidentes de percurso.