Título: Maluf ganha quibes e se diz decepcionado
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/09/2005, País, p. A7

Na ante-sala da sede da Polícia Federal, onde está preso desde a madrugada de ontem, Paulo Maluf repetiu diversas vezes que a prisão dele e do filho era injusta. De acordo com relatos de pessoas que acompanhavam o ex-prefeito, ele parecia não acreditar no que estava acontecendo e se disse decepcionado com as autoridades do país. O filho, Flávio Maluf chegou algemado às 8h25 à Superintendência da Polícia Federal de São Paulo, horas depois do pai, acompanhado por um dos seus advogados e escoltado por vários agentes.

O ex-prefeito e seu filho Flávio estão presos na sede da Polícia Federal na capital paulista por determinação da juíza Sílvia Maria Rocha, da Segunda Vara Federal Criminal de São Paulo. Eles são acusados de crime financeiro (evasão de divisas), formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pai e filho, que têm nível escolar superior, vão permanecer juntos na cela.

Ainda na madrugada de domingo, Maluf foi conduzido em carro policial ao IML para exame de corpo de delito. No prédio, ele cumprimentou funcionários e andou livremente. O ex-prefeito voltou à PF cerca de uma hora depois. Às 4h30, o advogado criminalista José Roberto Leal levou à PF colchão, travesseiro, cobertor, jogo de lençóis, toalha de banho e de rosto, pasta e escova de dentes e sabonete, além de pacotes de biscoito.

Paulo Maluf ficou em uma cela especial, de 12 metros quadrados, com três camas de alvenaria e uma mesa também de alvenaria. No chão há uma latrina e, sobre ela, um chuveiro. O local é vigiado por câmeras 24 horas e a porta tem trava elétrica.

Na cela, o ex-prefeito recebeu 12 quibes e quindins enviados pelo deputado federal Salim Curiati (PP-SP), que ontem não foi autorizado a entrar na PF. Horas antes, os dois conversaram por telefone, quando Curiati ligou para um aparelho fixo da carceragem.

-Por telefone, ele (Maluf) parecia firme e bem-disposto, mas ainda um pouco aturdido. Ele não esperava a prisão, ninguém esperava Maluf disse que está sendo bem tratado, mas que não sabe dizer o motivo de terem feito isso. Ele falou que veio espontaneamente com seu advogado e que não tinha sentido tudo isso - contou.

O cantor e vereador Aguinaldo Timóteo (PP), que se elegeu em 2004 após passar a campanha eleitoral passeando de jipe ao lado de Maluf e entoando ''Segura na mão de Deus'' também foi à sede da PF, mas não entrou. Ele apresentou aos jornalistas um livro que tinha em mãos, sobre obras públicas de Maluf, e foi embora. A PF informou que, por motivos de segurança, num sábado em que as equipes trabalham em esquema de plantão, as visitas são limitadas.

Por volta das 16h10, Jacqueline, mulher de Flávio Maluf, entrou no prédio com duas sacolas e uma água de coco de garrafinha para o marido. A mulher de Maluf, Sylvia, e os filhos Otávio e Lina passaram o dia em casa à espera de notícias dos advogados, que criticaram duramente a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal e disseram que a medida foi arbitrária, exagerada e absurda.

A assessoria de imprensa de Maluf divulgou nota na qual afirma que a prisão não tem ''fundamento jurídico'' e será contestada em instância superior da Justiça Federal. ''A prisão preventiva de Paulo Maluf é apenas uma cortina de fumaça para desviar a atenção dos fatos graves que ocorrem em Brasília'', diz a nota. Paulo Maluf e o filho devem passar também o domingo na prisão. O advogado José Roberto Batochio disse que entrará com pedido de hábeas-corpus amanhã, mas que precisa estudar os termos.