Correio Braziliense, n. 21544, 12/03/2022. Economia, p. 7 

Corrida contra dependência

Ingrid Soares
Fernanda Strickland


O presidente Jair Bolsonaro assinou, ontem, o decreto que institui o Plano Nacional de Fertilizantes 2022-2050, parte da estratégia para reduzir a dependência do Brasil das importações de potássio — situação que se agravou devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, uma das maiores exportadoras mundiais do mineral, matéria-prima para a fabricação do insumo. O programa pretende ser a referência para o setor nos próximos 28 anos.

Segundo a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, a ideia não é fazer do Brasil autossuficiente em fertilizantes, mas sim reduzir a dependência das importações de elementos importantes para a fabricação do produto. “Nossa demanda por nutrientes para as plantas é proporcional à grandeza de nossa agricultura. Mas teremos nossa dependência externa bastante reduzida. Repito: não estamos visando à autossuficiência. O mundo manterá os fluxos comerciais, e as commodities continuarão circulando em ambiente de livre mercado”, disse, acrescentando que se trata de um projeto de longo prazo.

O decreto também institui o Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas, órgão consultivo e deliberativo que coordenará a implementação do Plano de Fertilizantes. Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil ocupa a 4ª posição mundial no consumo global de fertilizantes, sendo o potássio o principal nutriente utilizado pelos produtores.

A ministra afirmou que o plano foi elaborado a partir de uma preocupação com o suprimento do insumo, essencial para as lavouras, e mostrou confiança no cumprimento das metas estabelecidas pelo documento. “No potássio, (está) nosso maior desafio. Dependemos 96% de importações. Temos perspectivas de longo prazo para exploração no Brasil, mas, neste momento, é fundamental pensar que precisamos manter nosso agronegócio competitivo. Não estamos apenas reagindo a uma crise; estamos tratando de problema estrutural”, esclareceu Tereza.

Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, lembrou o fato de o Brasil ter se tornado campeão mundial na produção agropecuária. “Ao mesmo tempo, a demanda por fertilizantes minerais da cadeia tradicional aumentou exponencialmente. A última vez em que um ente nacional se preocupou com uma política nacional de fertilizantes foi em 1984”.

Imposto zerado

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que impostos sobre a importação de fertilizantes terão que ser zerados se houver uma agudização da guerra, já que mais de 90% dos insumos utilizados no país são importados. “Nós estaremos monitorando isso e prontos para reagir na velocidade necessária. Modulação da resposta é o nosso acompanhamento”, afirmou.

O ministro admitiu que a crise no fornecimento de fertilizantes, a médio prazo, deve ter algum impacto no preço dos alimentos. “A curtíssimo prazo, não veria razão para subir tão rápido, a safra já está aí e foi plantada”, salientou. Guedes afirmou que, com o prolongamento da guerra, a preocupação será maior e demandará esforços fiscais adicionais. “O preço do petróleo pega tudo. Nossa esperança é que a guerra acabe rapidamente, seria o melhor”, disse.

Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos, mais de 85% dos fertilizantes utilizados no país são importados. (Com Agência Estado)