Título: Vítimas diárias do descaso
Autor: Branca Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 11/09/2005, Rio, p. A25

Domingos Ferreira Alves, 58 anos, Denivaldo Trindade dos Santos, 49, Alfredo de Oliveira, 48, são alguns dos pescadores que acompanham diariamente o gradual assassinato da Baía de Guanabara. Agravado diariamente pelo vazamento constante de óleo dos navios, o desastre é ampliado pelo esgoto despejado in natura das indústrias e comunidades do entorno e pelo assoreamento das águas. Nos quebra-mares das comunidades pesqueiras, as embarcações dividem espaço com o lixo flutuante que insiste em se amontoar diariamente nas margens. Apesar de infinitamente menor que o vazamento de 2000, os mais de 14 mil litros de óleo derramados no último dia 3 pelo navio Saga Mascot agravaram a situação de quem depende da pesca para sobreviver. As comunidades mais afetadas foram as dos marisqueiros de Jurujuba e de Boa Viagem, ambas em Niterói.

- Não sei como vamos sobreviver. Ainda não temos uma associação e não sabemos a quem recorrer - diz Leonardo Menezes Santana, 28 anos, que desde os 19 vive da venda dos mariscos retirados dos costões da ilha em frente à Praia de Boa Viagem.

Além da ausência cada vez maior dos peixes, os pescadores sofrem com a falta de estrutura. Na comunidade pesqueira Marcílio Dias, o cais está desmoronando e a fábrica de gelo precisa ser reformada. Em Tubiacanga, faltam tábuas na ponte que leva ao píer.

- São pequenas obras que mudariam consideravelmente a produtividade dos pescadores - afirma o ambientalista Sérgio Ricardo. - Sem a fábrica de gelo, por exemplo, eles são obrigados a vender os peixes por qualquer preço, porque não têm como armazenar o produto.

A reforma do cais da Marcílio Dias está em estudo na Petrobras desde 2000. A comunidade foi uma das mais afetadas pelo vazamento.