Título: Severino resiste e abre guerra
Autor: Daniel Pereira, Kelly Oliveira e Luiz Orlando Carn
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, País, p. A2

Acusado de receber propina, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem em entrevista coletiva que o documento entregue pelo empresário Sebastião Augusto Buani, como uma das provas do mensalinho de R 110 mil, é falso. E repetiu que não renunciará nem se afastará do cargo. Em pronunciamento de meia hora elaborado pelo advogado José Eduardo Alckmin, Severino pediu à imprensa e ao povo brasileiro que não façam prejulgamentos e disse ser vítima de preconceito pela origem nordestina. Enquanto lia o pronunciamento, Severino foi enfático ao dizer que as acusações contra ele são ''mentirosas''. Os partidos de oposição não aceitaram as explicações do presidente da Câmara partem para ofensiva contra ele na Casa Ao responder aos questionamentos dos jornalistas, que duraram cerca de uma hora, o presidente da Câmara demonstrou insegurança e usou de ironia para não responder às perguntas. Severino afirmou que a assinatura do documento apresentado por Buani à Polícia Federal foi falsificada. E tentou, por várias vezes, afastar a hipótese de que seus funcionários de gabinete poderiam ter colocado o documento em meio a outros papéis para que ele assinasse sem saber do que se tratava.

- Eu não assinei. Tenho funcionários da mais alta categoria que não iriam colocar um documento que eu não tinha obrigação de assinar - disse Severino.

O presidente da Câmara entregou um parecer de um perito criminal pernambucano, Adamastor Nunes de Oliveira, que diz haver indícios de fraude no documento. De acordo com o parecer, a assinatura apresentada por Buanisó passou a ser usada por Severino neste ano. Não era utilizada em abril de 2002, data do papel divulgado pelo empresário. A assinatura de referência para a análise do perito é do dia 30 de agosto deste ano, portanto da semana em que foram feitas as acusações contra Severino.

O presidente da Câmara voltou a afirmar que não renuncia e não pedirá afastamento, mesmo que parlamentares da oposição entrem com pedido de cassação.

- Irei exercer em toda a plenitude os dois anos. Os líderes é que tomem as suas decisões - disse Severino.

Em seguida mandou um recado aos colegas de Câmara: ''muitos desses líderes já são candidato a presidente. Mas eles precisam se candidatar a presidente daqui a um ano e meio, porque agora não vai ter vaga para eles não''.

Apesar da entrevista para rebater as acusações, para lideranças da Casa a situação continua grave. Resta definir apenas o remédio que será adotado para saná-la. Duas sugestões serão discutidas em reunião pluripartidária a ser realizada hoje ou amanhã em Brasília. Uma delas é descobrir, em um prazo de 48 horas, se o documento apresentado pelo empresário Sebastião Augusto Buani como prova do pagamento do mensalinho é verdadeiro. E, ainda, se existe o tal cheque que ele teria emitido em favor de Severino.

Só depois de apurada a consistência de tais provas seria deflagrado o movimento para destituir o atual presidente da Câmara. A segunda possibilidade é mais drástica: a imediata apresentação do pedido de cassação de Severino no Conselho de Ética, o que até a semana passada estava previsto para acontecer amanhã. Para lideranças das três principais bancadas da Câmara, o mais adequado no momento é tirar as dúvidas em torno do documento e do cheque, antes de iniciar uma eventual ofensiva contra Severino.

- Uma investigação rápida é a prioridade. O país não pode viver com uma dúvida desse porte. - diz o líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS).

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), afirma que o ideal é apresentar logo o pedido de cassação de Severino. Mas, em nome da formação de um consenso entre os partidos e de uma solução idealizada pela totalidade da Casa, concorda em dar um prazo de dois dias para que haja a checagem das provas documentais listadas por Buani contra Severino. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) diz que falta a Severino Cavalcanti consciência cívica e visão republicana.

-A Câmara está em frangalhos.