Título: Explicações ficam pela metade
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, País, p. A3

Na entrevista de ontem Severino Cavlacanti não soube explicar por que o restaurante Fiorella, de propriedade de Buani, continuou funcionando mesmo depois do pedido de renovação de contrato ter sido negado em abril de 2002. Precisou de ajuda do diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio. Ele disse que obras de restauração impediam que fosse realizada uma licitação.

A explicação sobre a data em que o documento que pedia a renovação de contrato foi protocolado também não foi dada por Severino. Ficou a cargo do seu advogado. Segundo Alckmin, o presidente da Câmara não poderia ter assinado o documento no dia 4 de abril, já que o mesmo só foi apresentado cinco dias depois.

Severino teve dificuldades também para explicar fatos relacionados à sua atuação como primeiro-secretário da Câmara. Questionado sobre os critérios utilizados para selecionar os bancos que fizeram contratos de crédito consignado para funcionários da Câmara, o deputado disse que os primeiros inscritos ganharam preferência.

- Fiz o que todos os meus secretários fizeram. Não houve protesto na minha gestão de nenhum banco que tenha reclamado de não ter participado.

Quando um repórter afirmou que era difícil encontrar um deputado que admita ter votado nele, após as denúncias de Buani, Severino foi irônico:

- Eu hipnotizei todos eles, que votaram sem saber que estavam votando.

O empresário Sebastião Augusto Buani reafirmou ontem que pagou a Severino pela prorrogação do contrato para explorar um o restaurante da Casa e que o documento classificado de ''fraudulento'' pelo presidente da Câmara foi assinado por ele em 4 de abril de 2002.

- Eu continuo dizendo: esse documento foi assinado na minha presença no gabinete de apoio [de Severino Cavalcanti, então primeiro-secretário], lá na Câmara. Eu vou morrer dizendo isso - disse Buani.

Sobre o resultado da perícia apresentado por Severino em sua defesa, Buani insistiu em que cabe à PF concluir se o documento é ou não falso.

O empresário espera obter hoje, numa das agências do Bradesco, em Brasília, a única prova das acusações a Severino: as cópias de dois cheques que teriam sido usados como parte do pagamento pela prorrogação irregular do contrato com a Câmara e de uma das parcelas do chamado mensalinho.

- Ele [Severino]tem três motoristas, foi um dos três que recebeu o dinheiro - disse.

Severino nega que um de seus motoristas tenha descontado cheques de Buani.

- O que vai liquidar isso é o Bradesco dar o extrato, dar o cheque. Vai estar lá a assinaturazinha do funcionário dele - reagiu o advogado de Buani, Sebastião Coelho da Silva.

Chamado de ''inescrupuloso'' e ''ardiloso'' pelo presidente da Câmara em seu pronunciamento, Buani ironizou. Contou que até bem pouco tempo atrás era uma pessoa bem-vinda no gabinete de Severino. Ele não quis comentar, no entanto, um contato que teria mantido com o deputado na semana passada, depois que as revistas semanais revelaram a propina.

O telefonema teria acontecido na tarde de domingo. No dia seguinte, Buani negou os pagamentos a Severino. Ele só voltou atrás depois do depoimento do ex-gerente do restaurante da Câmara Izeilton Carvalho à PF.