Título: Cariocas pedem moralidade aos políticos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, País, p. A4

Numa manhã de céu azul, sol e temperatura que chegou a marcar 31ºC, muitos cariocas deixaram a praia de lado para protestar contra a crise política que afeta o país. Organizada pelo Jornal do Brasil, a manifestação ''Moralidade Já'' começou às 10h na esquina da Rua Garcia D'Ávila com a Avenida Vieira Souto, em Ipanema, e arrastou brasileiros indignados até o final da Praia do Leblon. Vestidos com camisetas vermelhas com os dizeres ''Moralidade Já'', funcionários da empresa empunharam faixas e bandeiras, em protesto. Quem passava pela praia recebeu exemplares do jornal, que foi o primeiro a denunciar a existência do mensalão, em setembro de 2004.

- Todo movimento é válido. O povo todo acreditou na mudança drástica que viria com o Lula e não veio. Este é o momento que todos têm que se unir - exclamou a gerente comercial Lu Esteves, 42 anos. Lu levou para a passeata sua filha Anna Esteves, de apenas três anos, também vestida de vermelho.

A aposentada Inês Soares, 70 anos, desistiu de voltar para casa, depois da praia, e seguiu com os manifestantes. Participante de protestos desde o período da ditadura militar, Inês orgulhava-se de não desistir de acreditar no país.

- Eu não me deixo alienar, e participo de todo evento pela democracia. A comodidade daqueles que preferem ficar em casa me impressiona - criticou a aposentada.

Alguns participantes do movimento Basta!, que promove manifestações contra a violência carioca também aderiram à passeata. O aposentado Basile Petrou, 73 anos, comparou a gravidade da violência na cidade com a crise política no país.

- Se não fizermos nada, não estendermos faixas, se não gritarmos, continua tudo do jeito que está. Aí, violência e corrupção ficam banalizadas - atestou Basile.

Na semana em que chega ao Conselho de Ética o pedido de cassação dos 18 deputados envolvidos no mensalão, a possibilidade de que muitos renunciem para evitar a cassação também deixou cariocas revoltados.

- É preciso mudar a lei. A cassação tem que atingir quem renunciou também - reforçou o aposentado Luiz de Paula, 66 anos.

O funcionário público Ivan Tabuada, 66 anos, entrou no debate:

- A manobra de delação premiada é uma falha da lei. Eu cometo um crime, peço perdão e não sou punido? Com qualquer cidadão não é assim, por que aquele que representa o povo tem esse privilégio?

- A cassação não é uma punição suficiente. Prender os culpados pode ser uma solução - revolta-se a aposentada Laurita Orlando Vagner, 70 anos.

O empresário Marcelo Francês, 75 anos, discordou da aposentada. De acordo com ele, a punição criminal funcionaria como uma estratégia a longo prazo.

- A cassação é uma punição exemplar. Não adianta prender os corruptos, porque logo eles dão um jeito de sair. Além disso, não tem cadeia para tanta gente - argumenta o empresário.

Com a Câmara atingida pelas acusações, muitos começaram a repensar no voto nas próximas eleições. Anular ou votar em branco agora é uma forma de protesto.

A aposentada Hilda dos Santos, 60 anos, não se anima com o próximo pleito.

- A primeira tendência é votar nulo para deputado. Os partidos têm se mostrado máquinas de corrupção - declara .

O mecânico Carlos Monteiro, 58 anos, é enfático:

- Pelo menos 90% do Congresso está envolvido. Se a investigação for a fundo, todas as esferas de poder serão atingidas. Por isso, vou votar em branco - justificou Carlos Monteiro.