Título: Maluf recebe visitas e regalias na PF
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, País, p. A5
Os dois dias que Paulo Maluf e seu filho Flávio passaram até agora na prisão não foram tão ruins quanto muitos podem pensar. Eles tiveram num fim de semana direito a regalias que não estão de acordo com as normas seguidas geralmente na Polícia Federal, como várias visita dos advogados e direito a telefonemas para amigos. Maluf e Flávio receberam também quitutes nas celas especiais da sede da PF em São Paulo, onde teriam à disposição uma linha telefônica e jornais do dia, segundo Roque Carneiro, secretário particular do ex-prefeito.
- O tratamento é diferenciado porque Paulo Maluf, além de ter sido governador e prefeito, é formado em engenharia - disse Carneiro, pela manhã, quando esteve na polícia. Ele se afirmou mais tarde ter sido mal interpretado.
A PF e os advogados de Paulo Maluf se apressaram para desmentir as regalias listadas pelo assessor do ex-prefeito. A polícia nega que o político tenha um telefone na cela, mas confirma a autorização especial - dada pelo delegado-regional Rodnei Loureiro dos Santos - para receber visitas e conversar por telefone com o deputado Antonio Salim Curiati e com o amigo Jesse Ribeiro. Segundo a PF, é normal que pessoas presas no fim de semana recebam advogados.
Após passar uma noite tranqüila de sábado para domingo, segundo a assessoria da família, Maluf elogiou, através de seus advogados, o tratamento que vem recebendo dos agentes federais. Segundo um deles, José Roberto Batocchio, seus clientes estão bem, mas emocionalmente abalados. Ele esteve ontem durante cerca de duas horas com o ex-prefeito e seu filho.
- Uma situação como essa provoca instabilidade em qualquer pessoa, mas eles estão tranqüilos, na medida do possível, e com o mesmo pensamento de que não vão fugir - disse Batocchio, lembrando que Maluf se apresentou espontaneamente à Polícia Federal.
Além da visita dos advogados, o ex-prefeito e seu filho estiveram por volta das 13h com Jaqueline, mulher de Flávio e formada em advocacia, que já havia visitado o marido e o sogro na véspera. Também foram à PF o secretário particular de Maluf, Roque Carneiro, que levou torradas, mel e um pano de prato para o chefe, e Miriam da Conceição, 56ª suplente do PP na Câmara de Vereadores, que trabalhou por 35 anos para o político como diarista e levou para ele chá e suco de manga.
Roque recebeu telefonema de Maluf por volta de 7h30 mas não quis revelar o conteúdo da conversa. O policial que recebeu as encomendas informou que elas seriam revistadas antes de serem entregues ao ''doutor Maluf''.
Houve também quem levasse quitutes árabes para o político, mas temperados com ironia, indignação e protesto. Duas estudantes de biologia e psicologia, de 19 e 22 anos, prepararam uma bandeja com quibe assado, coalhada e pão árabe. Junto com ela, entregaram uma carta com o título ''Quitutes aos corruptos'' em que desejavam longa estadia na prisão para Maluf e seu filho. Curiosamente, também esteve na sede da PF um suposto funcionário dos Correios para tentar entregar um telegrama a Maluf. Ele foi orientado, porém, a deixar a correspondência na residência da família.
Presos no terceiro andar do prédio da PF, Paulo e Flávio Maluf têm direito a cela especial por terem curso superior. A cela, de 12 metros quadrados, tem banheiro privativo, colchonete para dormir e linha de telefone fixo.
Paulo Maluf se entregou à PF nos primeiros minutos da madrugada de sábado. Já Flávio foi abordado por agentes federais por volta das 5h do mesmo dia. Os dois são acusados de formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Se forem condenados podem pegar no mínimo oito anos de prisão.