Título: Padre preso no Brasil tem medo de morrer
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, País, p. A5

O padre colombiano Francisco Antonio Cadenas Collazos - preso pela Polícia Federal há três semanas, em São Paulo - tem medo de morrer se for extraditado. Ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o padre, que adotou no Brasil o codinome Olivério Medina, é acusado de terrorismo pelo ministério público de seu país. Ele diz temer o mesmo destino de Olga Benário, mulher de Luiz Carlos Prestes entregue aos nazistas pelo então presidente Getúlio Vargas.

- Se eu for levado para a Colômbia algum dia, sou um homem morto - afirmou o padre, emocionado, na última vez que visitou a sucursal do Jornal do Brasil , em Brasília.

A prisão preventiva do padre para fins de extradição foi decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Os advogados de Francisco tiveram acesso à documentação e dizem não ter encontrado provas de que ele seja terrorista.

Os processos de extradição no Brasil demoram em média dois anos. O último deles, da cantora mexicana Glória Trevi, resultou em um dos maiores escândalos da história da Superintendência da PF em Brasília, onde ela ficou presa e engravidou.

Em uma carta redigida dentro da prisão, o padre afirma que tem contribuído desde 1983 com os processos de paz em seu país.

- Ajudei nas comunicações e nos contatos com a imprensa - afirma Francisco.

Ele diz ter participado de reuniões com moradores de uma grande área desmilitarizada da Colômbia para tentar diminuir a violência e que a iniciativa teria reduzido o número de mortes.

- A violência do governo é pavorosa - diz o padre, em sua carta.

Apesar de acusar o padre por terrorismo, a ordem de captura da procuradora do MP colombiano Maritza Escobar Baquero não traz qualquer despacho de juiz colombiano. A nota que a Embaixada da Colômbia enviou ao STF diz que, no dia 8 de janeiro de 1991, um grupo armado das Farc comandado pelo padre participou de um assalto a uma base do exército no Estado de Meta e matou dois soldados.

Os amigos do padre no Brasil - que já preparam uma manifestação pela sua libertação - dizem que o processo é um ''absurdo'' pela falta de um mandado judicial. Eles consideram a acusação ''infundada'' e lembram que o fato teria ocorrido há 14 anos. Em carta que pretendem enviar ao governo federal, os amigos do padre irão alegar que em 2000, quando a Colômbia tentou extraditar Francisco, ele não foi apontado como responsável pelo ataque de 1991 em Meta.

Outra justificativa da defesa do padre é o fato de ele ter entrado no Brasil com passaporte expedido pela Colômbia. Isto demonstra, dizem os amigos do padre, que ele não respondia a nenhum crime em 1989. Uma das estratégias dos advogados do padre deverá ser o seu enquadramento na condição de ''preso político''.

Como último recurso, cabe pedido de enquadramento na condição de refugiado no Brasil. A cantora Glória Trevi não foi contemplada com a condição de refugiada. Em 2002, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) negou o pedido da cantora e o Ministério da Justiça endossou a decisão. Os amigos de Francisco acreditam na ''sensibilidade'' do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Afinal, dizem eles, foi o ministro que convenceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a desistir da idéia de cancelar o visto permanente do jornalista Larry Rohter, do jornal The New York Times, autor de reportagem sobre o hábito de consumir bebidas alcoólicas do presidente.