Título: Katrina matou uma brasileira
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, Internacional, p. A8

A tragédia do furacão Katrina pode ter alcançado o Brasil, com a notícia de que um corpo encontrado em Nova Orleans seria o da brasileira Benilda Caixeta, de 56 anos. A informação, embora sem confirmação, fora passada ao consulado em Houston no dia 3, através do telefonema de uma cidadã americana relatando o fato. Só no dia 5 o nome dela foi incluído no cadastro da Cruz Vermelha, seguindo a orientação do governo americano. Segundo nota do Ministério, a Divisão de Assistência Consular foi informada do cadáver achado na casa de Benilda, naturalizada americana há 23 anos, em Nova Orleans. É um apartamento no térreo, adaptado para deficientes ¿ já que, paraplégica, dependia de cadeira de rodas.

Sua irmã, Maria José, disse ao consulado que o último contato fora no dia 28 de agosto, quando o Katrina já arrasava a cidade. Na ocasião, Benilda teria dito que, em função de dificuldades de locomoção, decidira ficar em Nova Orleans quando a evacuação foi ordenada. Ainda de acordo com Maria José, a irmã tinha água para três dias isolamento.

¿O Ministério das Relações Exteriores instruiu o Consulado-Geral em Houston para que entre em contato com as instituições e órgãos competentes com vista à urgente identificação do corpo e que envie rapidamente um funcionário para acompanhar esse trabalho¿, afirma a nota do Itamaraty.

Natural de Patos de Minas, a administradora foi acometida de uma doença degenerativa aos 12 anos de idade. Em agosto de 1977, após tratamento frustrado no Brasil, ela foi a Washington ¿ a convite do ex-presidente americano Jimmy Carter, que a conheceu em visita a um hospital de Brasília ¿ para tentar se curar do que Maria José chama de ¿paralisia no crescimento dos nervos do corpo¿. A doença estava afetando todos os movimentos da irmã.

Já em Nova Orleans, depois de uma cirurgia mal-sucedida, o quadro da mineira que tem cidadania americana evoluiu à paraplegia e, depois de algum tempo, à tetraplegia. Apesar da enfermidade, Benilda preferiu fixar residência nos EUA. Voltou ao Brasil duas vezes, a última delas há 10 anos, e mantinha contatos semanais, por telefone, com a família.

Ontem, o presidente George Bush voltou pela terceira vez à região, em um esforço para aplacar as críticas à atuação desastrosa de seu governo associando a nova tragédia aos ataques de 11/9. Porém, entrevistado no programa da NBC Meet the Press , o prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, afirmou ter a impressão de que Bush foi mal informado.

¿ Creio que o presidente, por alguma razão, provavelmente não entendeu toda a magnitude da catástrofe no início ¿ disse o prefeito. ¿ Ele recebia a informação de alguns de seus altos colaboradores ou de pessoas de menor hierarquia no local, de que o assunto era grave, mas não tanto como acabou sendo ¿ acrescentou.

Nagin se defendeu de críticas pelo fato de ter requisitado centenas de ônibus que não puderam ser usados por falta de motoristas. Disse que estes deixaram a cidade, mas que se esforçou em levar quem estava isolado para o Superdome.

¿ Achávamos que em dois dias ou três chegaria a cavalaria ¿ frisou, referindo-se à ajuda federal antes de criticar Michael Brown, diretor da Agencia Federal para Administração de Emergências (Fema), pedindo sua demissão.

Sem qualquer experiência em emergências, Brown ¿ afastado sexta-feira apesar de ter sua atuação elogiada por Bush ¿ ganhou o cargo por sua participação na campanha republicana. Entre outras ações desastradas, o ex-coordenador anunciou na tevê um número telefônico através do qual se poderia pedir o cartão com crédito de US$ 2 mil para desabrigados do Katrina. Quando as pessoas ligaram, ninguém na Fema sabia do que se tratava.

A governadora da Louisiana, Kathleen Blanco, também não conseguiu entrar em contato com Bush ou seu chefe de gabinete para alertá-lo dos estragos. Democrata, teve de deixar mensagem suplicando ajuda com um conselheiro menor, segundo publicou a revista Time.