Título: O risco do crédito
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, Opinião, p. A10
Um espectro ronda o consumidor médio brasileiro: o endividamento. Conforme analisou reportagem de Samantha Lima e Bruno Rosa, ontem, no Jornal do Brasil, o que já foi uma boa notícia se transformou numa bolha de riscos perturbadores: a expansão do crédito. Comemorada por especialistas e cidadãos, a ampliação da oferta tem causado um comprometimento excessivo do orçamento doméstico, turvando a capacidade de consumidores de honrar seus compromissos. Entre janeiro de 2004 e julho de 2005, o número de operações de crédito à pessoa física avançou mais de 50%. De acordo com pesquisa feita pela seguradora Cardif, metade dos brasileiros está encontrando dificuldades em pagar as prestações. Muitos daqueles financeiramente encalacrados são pessoas que avançaram com vontade nas facilidades do crédito consignado com desconto em folha - que permite endividamento até um terço da renda pessoal.
Com juros mais baixos, o crédito consignado surgiu como solução para aqueles que não têm acesso fácil ao sistema bancário, a fim de financiar suas necessidades de consumo ou mesmo para a compra de bens em valores mais elevados. Não havia dúvida de que a criação dessas linhas de crédito vinha facilitando a vida de muitos brasileiros. É preocupante, no entanto, que os adeptos estejam imergindo num processo arriscado de endividamento.
A renda baixa, a dificuldade de planejamento no consumo e o pouco conhecimento da população sobre as ferramentas de crédito estão entre as raízes do problema. Analistas alertam para a ameaça de colapso no setor - agravado pela ação dos fraudadores e por operações irregulares. Não há riscos apenas para os consumidores. A economia como um todo perde. Quanto maior a demanda de consumo, por exemplo, maiores os juros praticados no país e menores as condições de pagamento das dívidas. Um círculo vicioso do qual é preciso escapar.