Título: Bush vence e promete união
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2004, Internacional, p. A-7

Kerry admite derrota em telefonema ao rival, que promete aos eleitores democratas fazer tudo o possível para conquistá-los

EFE Bush: ''Fizemos o trabalho duro, entramos num período de esperança''

WASHINGTON - O presidente George Bush se reelegeu ontem nos EUA para um mandato de mais quatro anos à frente da Casa Branca, depois que seu oponente, o democrata John Kerry, admitiu a derrota na tarde de ontem. Um de seus maiores desafios deverá ser unificar o país, que mostrou nas urnas estar dividido.

Em discurso em Washington, o presidente se dirigiu especificamente a cada um dos eleitores de Kerry:

- Para tornar a América mais forte, preciso de seu apoio e farei todo o necessário para conquistá-lo - afirmou. - Um novo mandato é uma nova chance para chegar a todo o país.

Em meio aos aplausos de partidários que foram festejar a vitória em um edifício próximo à Casa Branca, o presidente reconheceu que esse apoio será fundamental ''continuar'' o progresso econômico e a luta contra o terrorismo.

- Fizemos o trabalho duro e estamos entrando num período de esperança - ressaltou. - Há um velho ditado: não reze para que as missões estejam de acordo com suas capacidades, reze para que sua capacidade esteja de acordo com as missões. Em quatro anos a América teve grandes desafios e os enfrentou com força e coragem.

Mais cedo, apesar das declarações de que os democratas continuariam a lutar para que cada voto fosse contado em Ohio, que ainda faltava computar os votos provisórios [o de eleitores que votaram mesmo sem ter seu nome na seção eleitoral onde compareceram], Kerry telefonou ao presidente às 11 da manhã para confirmar sua retirada da disputa.

- Parabéns, Sr. presidente - disse Kerry.

Segundo uma fonte do Partido Democrata, Bush o chamou de um rival respeitável e difícil. Naquele momento, o senador já alertou o presidente para o fato de o país estar extremamente polarizado.

- Realmente temos que fazer algo em relação a isso - respondeu o republicano.

A breve conversa entre os dois conclui a mais cara e uma das mais disputadas eleições presidenciais da história dos EUA. O telefonema também deu fim a várias horas de especulação sobre como os democratas reagiriam depois que a campanha de Bush clamou vitória. Ontem de manhã cedo, Andrew Card, chefe da equipe republicana, deu declarações em Washington dizendo que o presidente tinha ganho a disputa no estado-chave de Ohio, com seus 20 votos no Colégio Eleitoral. Isto daria a Bush 274 votos dos 270 necessários.

A declaração de Card representou um arrojado movimento para tentar forçar Kerry a reconhecer a perda na corrida, que deixou os EUA tão polarizado como há 4 anos.

A batalha se concentrou na briga sobre quem levaria os votos de Ohio, onde Card afirmou que o presidente detinha ''uma liderança incomensurável''. O presidente liderava por 140 mil votos no estado, com 99,9% dos votos contados, e ganhou também o voto popular por 51% a 48%.

Inicialmente, tudo levava a crer que Kerry rejeitaria conceder a vitória ao rival, pois nem todos os sufrágios tinham sido contados.

- Vamos lutar por cada voto - disse John Edwards a ativistas do partido mais cedo.

Havia também informações de que o partido daria início a uma ação judicial, para garantir que todos os votos provisórios seriam levados em consideração. Mesmo antes, a trajetória de Kerry rumo à Casa Branca já não parecia tão clara, depois que a Flórida, estado onde o democrata Al Gore perdeu por 535 votos para Bush em 2000, deu uma margem de vitória bem mais confortável ao presidente desta vez.

Bush também poderá contar com uma maioria mais ampla no Senado e na Câmara dos Deputados e deverá fazer importantes substituições na Suprema Corte - que na eleição passada lhe concedeu a vitória, após ordenar a interrupção da recontagem na Flórida. Ao contrário da eleição passada, o republicano hoje tem um mandato transparente.

O alto comparecimento às urnas - de 121 milhões comparado aos 106 milhões de 2000 - trouxe falsa esperança a Kerry. Democratas achavam que um energizado eleitorado os favoreceria, o que não aconteceu.

Durante o discurso, o presidente considerou a ''eleição histórica'', já que sua candidatura obteve o maior número de votos da história dos EUA.

Ao todo, Bush conquistou ao menos 28 estados e liderou o voto popular com 51%, o que representa 3,8 milhões de votos. Pesquisas de boca-de-urna sugeriram que uma pequena margem de eleitores confiava mais no presidente para liderar a guerra ao terror, o que provavelmente foi decisivo para Bush.

Sobre a guerra, o republicano disse que continuará ajudando as ''democracias incipientes do Iraque e do Afeganistão'', para que os soldados americanos voltem para casa com a honra de quem ganhou. Na política nacional, destacou os valores da família e da fé.