O Globo, n. 32717, 05/03/2023. Política, p. 6

Ministro das Comunicações recontrata bolsonaristas



Filiado ao União Brasil, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, realocou pelo menos nove pessoas demitidas por ordem do atual governo e que ocuparam cargos estratégicos na gestão de Jair Bolsonaro.

No dia 1º de janeiro, a Casa Civil promoveu uma exoneração em massa na pasta, atendendo a um pedido do presidente Lula. Mas, algumas semanas depois, Juscelino trouxe os ex-funcionários de volta em outras funções. Entre eles estaria um ex-secretário de Radiodifusão na gestão anterior que participou de uma motociata em apoio ao ex-presidente. A informação é do jornal O Estado de São Paulo. As três secretarias que compõem a estrutura do ministério e estão abaixo de Juscelino são comandadas por comissionados da era Bolsonaro. Entre os nomes está o de Sônia Faustino Mendes. Na gestão anterior, ela era diretora do Departamento de Estruturação Regional e Urbana, da Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano, responsável por analisar projetos, supervisionar obras e gestão de transferências de recursos, e estabelecer critérios para priorização de investimentos.

Número 2 da pasta

No governo Lula, Sônia comanda a Secretaria Executiva do Ministério das Comunicações, e foi nomeada no dia 5 de janeiro. Considerada a número 2 da pasta, ela chegou a substituir Juscelino na chefia do ministério, em fevereiro, durante viagem dele a Portugal.

Além de Sônia, há mais oito nomes na mesma situação. Outro demitido, Maximiliano Martinhão era secretário de Radiodifusão na gestão do PL e voltou como secretário de Telecomunicações. Martinhão chegou a participar de uma motociata em apoio a Bolsonaro, o que publicou nas suas redes sociais, ainda de acordo com o Estado de São Paulo.

Ex-diretor do Departamento de Política Setorial da Secretaria de Telecomunicações, Wilson Diniz Wellisch foi exonerado no dia 1º de janeiro e voltou à pasta em menos de duas semanas, como secretário de Comunicação Social Eletrônica. O posto é ainda mais alto no novo governo.

Outro demitido, Pedro Lucas Araújo voltou ao mesmo cargo de chefe do Departamento de Investimento e Inovação. Juscelino também empregou no Ministério das Comunicações a irmã do sócio do haras de sua família. Tatiana Marques Gaspar da Silva foi contratada como assessora especial e tem um salário de R$ 13,6 mil. O ministro não se manifestou.

Cargo em risco

Juscelino Filho está enfrentando uma série de denúncias desde que foi nomeado pelo presidente Lula ao cargo. As acusações vão de uso indevido de avião da FAB até ocultação de patrimônio. Em meio às polêmicas, o petista chegou a afirmar, na quinta-feira, que deve se reunir com o ministro na próxima semana, e que o parlamentar terá que deixar o posto caso não prove sua inocência.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu a saída temporária do aliado para dar explicações. Já o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pregou cautela e afirmou que já houve casos “injustos” de pré-julgamento, inclusive em relação ao PT.