Título: PT ainda espera ter 23% dos votos do DF
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 12/09/2005, Brasília, p. D1

Depois de 15 anos fazendo parte dos quadros do Partido dos Trabalhadores, o senador Cristovam Buarque oficializou a saída da legenda na última sexta-feira, segundo ele por acreditar que não havia mais projeto. Ex-governador do DF, Cristovam ainda conta com a simpatia de boa parte do eleitorado brasiliense, e vinha aparecendo bem nas últimas pesquisas de opinião sobre sucessão ao GDF. Apesar da baixa, petistas acreditam que o partido - que nos últimos três meses vem sendo bombardeado por denúncias de corrupção e uso de caixa dois em campanhas eleitorais - não será enfraquecido. Para o atual presidente do PT-DF, Wilmar Lacerda, amigo pessoal de Cristovam, a perda do senador poderá abalar ainda mais o PT. Mas ele acredita que o partido é forte o suficiente para se reeguer e sustentar a base de pelo menos 23% dos votos nas eleições para o GDF em 2006. Wilmar acredita que Cristovam, que saiu distribuindo críticas ao Planalto, continuará próximo do PT e de seus militantes

- Não o vejo como um adversário nosso, um inimigo, mas sim um aliado de esquerda - diz Wilmar.

Mais duro com o ex-correligionário, o deputado distrital Chico Vigilante, candidato à presidência do PT-DF, afirma que Cristovam demonstrou ''não ser a fortaleza que pensava'', pois saiu ''sozinho'' do partido (apenas seis militantes o acompanharam da desfiliação). Vigilante garante que a militância considera Cristovam ''um traidor'' e prevê um final de derrota para o senador.

- Ele está como o Lauro Campos [ex-senador], que saiu do PT por divergências com Cristovam. Entrou para o PDT e, na candidatura à reeleição no Senado, teve apenas 50 mil votos - lembrou o distrital.

Em uma carta de despedida endereçada aos companheiros petistas, Cristovam afirma ser necessário estar fora do PT para ''continuar a luta para mudar o Brasil''. Ele ressaltou sua gestão à frente do Palácio do Buriti, entre 1994 e 98, destacando ''o maior dos projetos do presidente Lula, a Bolsa Família'', criação sua. Empunhou a bandeira da educação como a saída para as desigualdades sociais e afirmou ter visto no comando do Ministério da Educação, onde ficou por um ano, ''a grande chance da revolução''.

- Estou certo de que o eleitor de Brasília me considera um dos parlamentares petistas que honrou o PT, e que o presidente Lula não pode me incluir na lista dos que desonraram seu governo (...) Foi preciso fazer uma opção. Mergulhar diretamente na luta pela causa que justificou a criação do PT, ou ficar com a luta interna no PT. Ser PT ou ser petista. Fiz a opção de continuar na luta pelas reformas sociais que o Brasil espera, e não na luta interna entre as tendências do partido, que considero fratricida, corporativa, antipopular (...) Não estou abandonando o barco. Meu barco é o Brasil. Não estou mudando de lado. Meu lado é o do povo - afirma, na carta. Cristovam finaliza admitindo saber que alguns companheiros ''não entenderão'', e classificarão sua atitude como oportunista.

Desfiliações - Wilmar Lacerda garante que, apesar da crise, o PT não vive uma desfiliação em massa. Ele acredita que os 26 mil militantes estão engajados na luta pela reconstrução da legenda.

Há grande expectativa sobre o resultado do Processo de Eleições Diretas (PED), no próximo dia 18, que escolherá os novos dirigentes em âmbito nacional e regional. A deputada federal Maria José Maninha faz parte do grupo de parlamentares que reserva perspectivas sobre o resultado das eleições para decidir o que fazer. O deputado distrital Chico Floresta, que também havia ameaçado deixar a legenda, afirma que pretende ficar. Segundo ele, a decisão sairá de debates com sua corrente de apoio, a Avança PT.

- Acredito que o Campo Majoritário vai começar a abrir diálogo, para sua própria sobrevivência. Mas ainda vamos sofrer muito em 2006 - prevê Floresta.