O Globo, n. 32719, 07/03/2023. Política, p. 6

Mulher de Rui Costa é aprovada por comissão para vaga no TCM-BA

Fernanda Alves


A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa da Bahia aprovou ontem a recomendação do nome de Aline Peixoto, mulher do ex-governador do estado e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, para o cargo de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Ontem, ela e o ex-deputado estadual Tom Araújo, outro postulante à vaga, foram sabatinados, e a decisão final ocorrerá no plenário da Casa, prevista para amanhã.

Ao falar sobre as críticas que vem sofrendo por concorrer ao cargo, a enfermeira de formação chorou. O salário do posto é de R$ 41 mil.

— Críticas são normais na democracia, e eu as aceito naturalmente, ainda que discorde. O problema é que muitas foram de cunho pessoal, verdadeiras agressões a uma mulher, tentando me desqualificar apenas por eu ser casada com o ex-governador da Bahia e ministro da Casa Civil, Rui Costa — disse Aline, que se emocionou e foi aplaudida pelos parlamentares.

Levantamento do GLOBO mostrou ontem que um em cada três conselheiros de cortes no país é familiar de quem exerceu mandato: dos atuais 232, 30% são parentes de políticos. Caso Aline seja indicada para a vaga, ela será a quarta mulher de ministro do governo Lula no cargo, que é vitalício: Rejane Dias, casada com Wellington Dias (Desenvolvimento Social), foi eleita para o Tribunal de Contas do Piauí. Renata Calheiros, esposa de Renan Filho (MDB), vai ocupar uma vaga no Tribunal de Contas de Alagoas. E a ex-deputada estadual Marília Góes, mulher do ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, está hoje no Tribunal de Contas do Amapá.

Durante sua fala, Aline citou sua trajetória como gestora pública em unidades de saúde, lembrando que foi assessora especial da Secretaria de Saúde da Bahia (2012 a 2014), além de presidente das Voluntárias Sociais da Bahia (2015 a 2022) —a entidade é comandada sempre pela primeira-dama do estado.

— Tentaram apagar a minha história. Tenho orgulho do meu marido e da história que construímos. É o que me dá forças para superar as injustiças — acrescentou, afirmando ainda que usaram sua indicação para o cargo como “disputa política”.

Informações do Portal da Transparência do governo baiano mostram que a enfermeira permaneceu na Secretaria de Saúde mesmo após o marido assumir o governo, em 2015. Há registros de diárias pagas pela pasta a Aline até 2019. A última, no valor de R$ 513, em 14 de outubro de 2019, descrita como “pagamento de diária de servidor”.

Na sabatina, Aline foi perguntada sobre o senador Jaques Wagner (PT), que se manifestou contrário ao seu nome. No entanto, após intervenção da presidente da CCJ, Maria Del Carmen (PT), ela não respondeu.