Título: Europeus querem reaproximação
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2004, Internacional, p. A-12

França, Alemanha e Grã-Bretanha dizem que vitória de Bush é uma oportunidade de retomar os laços

WASHINGTON - Assim que o resultado das eleições se confirmou, autoridades de todo o mundo mandaram mensagens de congratulações a George Bush. Da Europa, o presidente Jacques Chirac, que liderou o bloco de resistência à invasão do Iraque, afirmou que a reeleição é uma oportunidade de aproximar os dois países.

- É com espírito de diálogo, estima e respeito mútuo que devemos continuar desenvolvendo nossa cooperação, nosso combate comum ao terrorismo e a ação conjunta para promover a liberdade e a democracia - disse Chirac, expressando sua ''cordial amizade'' a Bush de próprio punho no final da mensagem.

A mesma visão foi demonstrada pela Alemanha, outro integrante do grupo contra a guerra. O primeiro-ministro da Alemanha, Gerhard Schröder, que já havia declarado seu apoio a Bush antes das eleições, frisou em sua mensagem a Washington a necessidade de união e declarou sua disposição de ''manter a boa colaboração com os Estados Unidos''. O mesmo tom foi usado pelo primeiro-ministro espanhol, Jose Rodriguez Zapatero.

De Londres, o primeiro-ministro Tony Blair também saudou o maior aliado na linha de união e disse que o resultado é uma oportunidade para reconstruir as relações transatlânticas. Diante da residência oficial de Downing Street, Blair disse que telefonou para o americano e o cumprimentou.

Para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a vitória de Bush tem significado especial.

- Posso me alegrar que o povo americano não se deixou intimidar pelos terroristas e tomou a decisão conveniente - disse Putin, depois de uma reunião com o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi. O líder italiano, por sua vez, afirmou que a vitória republicana é uma boa notícia para o mundo.

- Os EUA conservaram no âmbito político seu papel de motor da liberdade e da democracia no mundo - ressaltou.

O ambiente de reconciliação na Europa não encontrou eco, no entanto, no Oriente Médio, sobretudo entre os países árabes. Em Israel, a maioria da população era a favor da reeleição do presidente americano, cujo apoio ao governo de Tel Aviv é incontestável. Já o líder palestino Yasser Arafat mandou, de Paris, onde está internado, felicitações a Bush.

Porém, à exceção dos israelenses, palestinos e curiosamente alguns iranianos, outros países do Oriente Médio reagiram com reservas diante da eleição. O Iêmen foi o único a emitir comunicado oficial, criticando o governo americano.

- Depois dos atentados em 11/9 houve uma violação aos direitos humanos de árabes e muçulmanos, e a guerra no Iraque não teve nenhuma justificativa - diz o texto.

Na capital do Iraque, os cidadãos comuns disseram não ter tempo de se preocupar com o resultado da eleição.

- Estamos ocupados demais com as explosões, a falta de estabilidade política, os sabotadores - afirma Georges Butros, em sua venda em Bagdá. - A política externa dos EUA não mudará. Então, para nós, não faz diferença - completa Raad Fadel, dono de uma loja de instrumentos musicais. - Nós sofremos muito e ainda estamos sofrendo - emenda Adnan Nicholas, de 38 anos. - Queremos que ele dê fim ao sofrimento.

Imad Shuaibi, um professor da Universidade de Damasco (Síria), previu ''outros quatro anos de pesadelo'', pressupondo que Bush não aprenderá com os erros do primeiro mandato e que tornaram os EUA um país extremamente impopular entre os árabes.

- A vitória de Bush deve trazer mais violência no Iraque e no Afeganistão. Outros pontos podem pegar fogo, como o Sudão, o Irã e a Síria. Nuvens negras estão no horizonte - afirma Ali Ammar, advogado e jornalista do Marrocos, apoiado pelo analista Jasim Ali, do Bahrein.

- Não é uma boa notícia para o Oriente Médio. Bush poderia interpretar isso como um sinal de que sua política na região é um sucesso e radicalizar - analisa. - Mais quatro anos significam que mais pessoas inocentes se transformarão em vítimas - acrescenta o saudita Khaled Maeena.

Curiosamente, o Irã, com quem as relações do governo Bush vão de mal a pior, achou positiva a recondução do texano à Casa Branca. Mohammad Ali Abtahi, assessor do presidente Mohammad Khatami, disse que a vitória de Bush era preferível, apesar das ''políticas erradas'' adotadas por ele.

- Com os erros que cometeu ele tem agora mais conhecimento sobre a região do que Kerry, que precisaria de tempo e dinheiro para chegar às conclusões de Bush - afirmou.