Título: Polêmico plano de vôo
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 13/09/2005, Economia & Negócios, p. A17
Formação de duas empresas distintas que dividirão a gestão e a operação da companhia, leilão judicial para definição do novo controlador, corte de 13% dos 12 mil funcionários e foco operacional em São Paulo. Estes são os principais pontos do plano de reestruturação da Varig, apresentado ontem ao presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), Sergio Cavalieri Filho, pelo Conselho de Administração da empresa. A formação de duas diferentes companhias tem por base o artigo 60 da Lei de Recuperação Judicial. O objetivo é tornar o grupo mais atraente para os investidores, com a eliminação de parte dos passivos da Varig, que acumula dívida pactuada de R$ 7,7 bilhões.
O conselho montou um esquema para garantir o pagamento dos débitos. A ¿velha Varig¿ ficará não apenas com o passivo, mas com parte dos ativos e das rotas do grupo. Desta maneira, a montagem garante a entrada de recursos nas duas companhias.
¿ O consórcio se manterá por algum tempo, até que a dívida esteja equalizada. Depois, a liderança do consórcio será automaticamente transferida para o novo controlador ¿ explicou Gustavo Fleichman, advogado do escritório Bulhões Pedreira, Bulhões Carvalho, Piva, Rosman & Souza Leão, que auxilia a companhia aérea.
De acordo com Eleazar de Carvalho, vice-presidente do Conselho de Administração, o plano não impõe uma formatação específica. O consórcio pode ser montado em função das negociações entre novos investidores e credores.
¿ O que fica bem claro no plano é que a empresa precisa de recursos novos para investimento num curto espaço de tempo ¿ disse Eleazar.
Os conselheiros da empresa fazem questão de afirmar que os passageiros não enfrentarão problemas com a formação de duas companhias.
¿ A operação será conjunta. Não haverá diferença ¿ afirmou Eleazar.
A maneira prevista no plano para a entrada de recursos e a definição de um novo controlador é o leilão judicial. Sem prazo para acontecer, a briga pelo controle da empresa depende da aprovação dos credores.
¿ Se os credores aprovarem, o leilão pode ser antes de dezembro ¿ previu o vice-presidente do Conselho de Administração.
O plano de reestruturação também contempla medidas para redução de custos e aumento das receitas. Entre as principais iniciativas, estão a criação de um hub operacional em São Paulo, o corte de 13% da força nacional de trabalho ¿ cerca de 1.500 funcionários ¿, a reativação dos aviões parados e a remodelação da frota.
Segundo o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, ao longo dos últimos 20 anos, o número de vôos para os três aeroportos paulistas cresceu num ritmo muito mais elevado que o avanço no Santos Dumont e no Galeão, que concentra a maior parte dos tripulantes da companhia.
Desde 1984, o movimento em Guarulhos, Congonhas e Campinas passou de 5 milhões de passageiros por ano para 27 milhões, enquanto no Rio subiu de 7,5 milhões para 11 milhões.
¿ Nossas operações passaram para São Paulo, mas nosso pessoal continuou concentrado no Rio. Com a consolidação de um hub nacional em Guarulhos, poderemos programar melhor nossos vôos em função das parcerias da Star Alliance ¿ ressaltou Carneiro da Cunha.
O presidente da companhia afirma ainda que os funcionários estão mal distribuídos, com algumas áreas com excesso de pessoal, enquanto outras têm déficit de empregados.
A otimização do combustível e a remodelação da frota também são listadas como necessárias para aumentar as margens operacionais da companhia.
¿ O combustível representa 36% dos nossos custos, enquanto utilizamos nove famílias de aeronaves, que devem ser reduzidas a três até 2010 ¿ disse Carneiro da Cunha.
A reativação dos aviões parados é outra preocupação dos atuais administradores.
¿ Hoje temos 14 aeronaves paradas, que representam US$ 40 milhões em aluguel e não geram receita alguma.
De acordo com o plano, elaborado em conjunto por Varig, Lufthansa Consulting, UBS e os escritórios Sérgio Bermudes e Bulhões Pedreira, Bulhões Carvalho, Piva, Rosman & Souza Leão, a empresa precisaria de investimentos de pelo menos US$ 135 milhões para implementar todas as mudanças necessárias, mas o incremento de receita poderia gerar US$ 307 milhões a mais e reduzir custos em US$ 168 milhões.
Sergio Cavalieri Filho afirmou ao receber o projeto, que o Judiciário não se furtará a colaborar para que a Varig consiga se reestruturar e sugeriu que os outros Poderes deveriam ter ajudado mais a empresa.
O presidente do Conselho de Administração da Varig, David Zylbersztajn, fez coro.
¿ Agora cabe ao governo fazer a sua parte ¿ ressaltou, lembrando que o prazo para apresentação do plano foi uma das principais dificuldades enfrentadas pela empresa.