Título: Crédito rural em ritmo de carroça
Autor: Samantha Lima e Riomar Trindade
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2004, Economia, p. A-19

BNDES empresta só um quarto dos recursos previstos No primeiro terço do ano agrícola, que começou em julho, apenas um quarto dos recursos do BNDES destinados ao financiamento da safra 2004/2005 foi desembolsado. Dos R$ 8,56 bilhões disponíveis em linhas de crédito para investimento na produção, os produtores levaram somente R$ 2,2 bilhões até outubro. - Houve uma redução no ritmo de concessão de crédito. Atribuímos o fato à queda no preço de produtos como algodão, soja, milho e trigo frente à supersafra americana, que respondem por importante parcela da pauta de commodities. A greve dos bancos também dificultou a concessão dos recursos - afirmou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin. - Acreditamos que a situação deva se normalizar nas próximas semanas.

Ainda assim, os recursos liberados pelo BNDES são 29% superiores em comparação a igual período de 2003, quando somaram R$ 1,69 bilhão. Os recursos totais do banco destinados à atual safra foram ampliados em 21% em relação à safra anterior. Os programas Moderfrota e Linha Especial Agrícola, que financiam aquisição de máquinas e equipamentos, respondem pela concessão de R$ 1,64 bilhão, ou 74% da verba já liberada. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, reuniu-se com o presidente do BNDES, Carlos Lessa, para definir os últimos ajustes à concessão dos créditos para investimento .

O Banco do Brasil também anunciou aumento dos recursos investidos na atual safra. No período julho-novembro, o BB estima que sejam aplicados 15,5 bilhões, valor 26% superior aos R$ 12,3 bilhões investidos no mesmo período da safra passada.

José Carlos Vaz, gerente executivo de Agronegócio do BB, anunciou a aplicação de R$ 5 bilhões no campo ao longo deste mês. Os recursos, colocados à disposição dos produtores rurais na última segunda-feira, destinam-se às linhas de crédito de custeio agrícola e pecuário, investimento e comercialização. No custeio serão aplicados R$ 3,520 bilhões, mais R$ 630 milhões em investimento e R$ 850 milhões na comercialização. À agricultura familiar serão destinados R$ 920 milhões, sendo R$ 680 milhões para custeio e R$ 240 milhões para investimento.

- Estamos injetando dinheiro na veia do produtor - disse.

Ele destacou o crescimento das operações com Cédulas do Produto Rural (CPR), negociadas por intermédio do Banco do Brasil. De janeiro a outubro deste ano, as operações com CPRs totalizaram R$ 3,1 bilhões, com um incremento de 321% em relação ao valor (R$ 987 milhões) negociado em igual período do ano passado. Este ano, o banco não apenas avalizou operações com CPRs como também comprou cédulas financeiras, no montante de R$ 900 milhões.

A entrada do BB como comprador, salientou, contribuiu para derrubar a taxa de juro e outros encargos que envolvem a operação.

O plano do governo federal para a safra 2004/2005 prevê a aplicação de R$ 46,5 bilhões em todo o sistema nacional de crédito rural. Mais da metade desse total - R$ 25,5 bilhões - será aplicada pelo Banco do Brasil, com incremento de 24% em relação à safra anterior. A previsão total de produção entre julho de 2004 e junho de 2005 é de 130 milhões de toneladas de grãos, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).