Título: O Silêncio de Roriz
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2004, Brasília, p. D-2
A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado retomou a discussão sobre o projeto do ex-senador Francisco Escórcio, dispondo sobre a criação do Estado do Planalto Central. A nova unidade teria Taguatinga como capital de um conjunto de 29 municípios , sendo 25 de Goiás e quatro de Minas Gerais, além de outras 12 cidades-satélites. Ao DF restariam os lagos Norte e Sul, Sudoeste/Octogonal, Cruzeiro, Guará 1 e 2, Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Vila Paranoá. Brasília perderia autonomia política, com o fim da Câmara Legislativa e da eleição direta para governador, cuja escolha caberia ao presidente da República. O tema não conta com a simpatia da maioria dos senadores, sobretudo os mineiros e goianos que rejeitam qualquer idéia de perda de território para um novo estado. Mas admite-se um debate mais amplo que atinja outros estados cuja dimensão talvez comportasse uma redivisão territorial. Mas este seria o caso do DF, com 5,8 mil quilômetros quadrados? Há de se reconhecer que o quadrilátero se transformou numa ilha cercada de graves problemas sociais e econômicos devido à falta de políticas públicas estaduais condizentes com as demandas dos municípios do Entorno. A responsabilidade, no entanto, não é do DF e a solução não viria com a criação de mais uma unidade federativa. Não serão os recursos do Fundo Constitucional do DF que irão redimir a região dos impasses socioeconômicos.
A retomada do debate sobre a criação do estado do Planalto Central sugere a existência de interesses políticos contrários às reais necessidades da população. Busca-se suprimir do brasiliense a cidadania conquistada, reduz-se o território e repassa-se a outra unidade as forças econômicas aqui edificadas. O governador Joaquim Roriz, como maior líder político do Distrito Federal, não pode usufruir por mais tempo do benefício do silêncio diante da gravidade do tema, que interfere definitivamente no futuro da capital. A cidade reivindica sua manifestação clara de apoio ou condenação à proposta.