O Estado de São Paulo, n. 46700, 27/08/2021. Política p.A8

 

Presidente indica veto a 'quarentena' em eleição

 

O presidente Jair Bolsonaro indicou ontem, durante live nas redes sociais, que pode vetar o artigo do Código Eleitoral que prevê quarentena para juízes, militares e policiais se candidatarem a cargos eletivos. Ele fez um apelo para que a Câmara dos Deputados não aprove o dispositivo e disse que não "prejudicaria todo mundo" apenas para "tirar Sérgio Moro" da disputa, numa referência ao ex-juiz e ex-ministro da Justiça, hoje seu desafeto. "Quero mais que o Sérgio Moro dispute e, se ganhar, vou dar boa sorte para ele", afirmou Bolsonaro.

Para o presidente, a quarentena é "uma tremenda discriminação". "O policial, o militar e o juiz também têm direito de se candidatar. Para tirar o Sérgio Moro não posso prejudicar todo mundo", disse. Ex-juiz da Lava Jato, Moro pode tirar votos de Bolsonaro caso aceite participar da corrida presidencial, mostram pesquisas eleitorais.

O presidente afirmou ainda que, embora o Parlamento faça tudo ao contrário do que ele pede, arriscaria um novo apelo. "Tudo o que eu peço ao Parlamento eles fazem o contrário. Mas peço que não aprovem. Por que só para essas categorias? Sou contra (o projeto)", disse.

A proposta prevê a exigência de uma quarentena de cinco anos para que militares, policiais, juízes e promotores possam concorrer às eleições. A regra foi protocolada anteontem no texto da deputada Margarete Coelho (PP-PI), relatora do novo projeto da reforma eleitoral, e vinha sendo debatida nos bastidores do Congresso. Margarete disse ter acolhido pedidos de várias siglas e ter usado como referência textos que já tramitavam na Câmara.

O Podemos, partido que busca ser abrigo para uma eventual candidatura de Moro, reagiu à inclusão da quarentena. Em nota, afirmou que "repudia a manobra na legislação a toque de caixa para aprovar um dispositivo que iguala juízes, magistrados e policiais aos fichas-sujas".

Nas últimas duas semanas, Bolsonaro sofreu derrotas consecutivas no Congresso. Anteontem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), arquivou pedido do mandatário para abertura de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No início do mês, a Câmara derrubou proposta de retomada do voto impresso no País, a maior bandeira política do presidente.