O Estado de São Paulo, n. 46700, 27/08/2021. Política p.A9

 

Centrão vê agora pouca chance de reeleição

 

Lauriberto Pompeu

 

Aliado de Jair Bolsonaro no Congresso, o Centrão se divide para a disputa de 2022 e uma importante ala do bloco avalia que a chance de o presidente conquistar o segundo mandato está cada vez mais distante. Em conversas reservadas, o núcleo do Progressistas, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, aposta que a eleição para o Planalto pode até ser decidida no primeiro turno, se o presidente não mudar radicalmente o comportamento e a população não sentir no bolso uma melhoria econômica.

O diagnóstico marca uma mudança significativa na avaliação de políticos próximos do Planalto. Até então, o palpite era de que Bolsonaro voltaria a ser competitivo no ano que vem com crescimento econômico e um novo Bolsa Família, batizado de Auxílio Brasil. Apoiadores do presidente também argumentavam que, com todo mundo vacinado, ninguém mais se lembraria do desastre na gestão da pandemia de covid-19.

Com inflação, juros e desemprego em alta, a população sente os efeitos da deterioração econômica. A situação ainda é agravada por uma nova onda da pandemia, crise hídrica e arroubos autoritários de Bolsonaro. Neste cenário, até em legendas com assento na Esplanada de Ministérios há deputados que admitem haver obstáculos para Bolsonaro em 2022.

No Progressistas já há quem considere que não vale a pena ficar com Bolsonaro. É o caso do deputado Eduardo da Fonte (PE), ex-líder do partido, ligado ao ministro Ciro Nogueira e apoiador da candidatura do ex-presidente Lula. Na Bahia, Estado comandado por Rui Costa (PT), o vice-governador João Leão (Progressistas) é outro nome que rechaça uma aliança com Bolsonaro (mais informaçoes nesta página). O presidente da sigla, deputado André Fufuca (MA), disse que o atual cenário é “mutável”. “A tendência é que sua popularidade volte a subir e ele chegue com condições reais de disputar a reeleição.” Nos bastidores, no entanto, Fufuca conversa com Lula.

Vice-líder do PL, o deputado Zé Vitor (MG) disse que “não é um bom momento” para o presidente. Mesmo assim, evitou dizer como avalia as chances de reeleição. O deputado disse ser contra o apoio a Lula, mas não descartou avalizar um candidato alternativo ao petista e a Bolsonaro. O PL ocupa a Secretaria de Governo, com Flávia Arruda (DF). Uma ala do partido, porém, flerta com Lula.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), por exemplo, se reuniu com Lula em abril. Embora ainda não tenha decidido em qual campanha embarcará no ano que vem, Ramos já descartou apoio a Bolsonaro. “O problema é a inflação alta, a gasolina a R$ 7, a energia subindo, a comida subindo, o gás de cozinha a mais R$ 100, os juros em dois dígitos no longo prazo, a inflação descontrolada, desemprego e fome. A situação dele é muito difícil, não dá tempo de reverter isso.”

Pesquisa XP/Ipespe divulgada na semana passada mostra as dificuldades enfrentadas pelo presidente. Lula obteve 40% das intenções de voto em uma simulação de primeiro turno, Bolsonaro marcou 24%.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, diz em público o que grande parte dos dirigentes de partidos reserva para o bastidor. “Tem uma chance grande de o presidente Bolsonaro não estar no segundo turno.” O PSD tem em seus quadros o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que está de saída do partido por causa das divergências da sigla com o governo. Enquanto isso, Kassab articula para filiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e lançá-lo à cadeira de Bolsonaro.

À frente do Solidariedade, o deputado Paulinho da Força (SP) também vê crescer a hipótese de Bolsonaro perder no primeiro turno. “Se Lula souber manter a unidade da esquerda – o que é difícil por causa do Ciro (Gomes, do PDT) – e caminhar para o centro, tem chance de ganhar no primeiro turno.” Em 2018, o Solidariedade integrava o Centrão e apoiou Geraldo Alckmin (PSDB), mas há tempos o partido se descolou do grupo.

 

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'Estamos juntos', diz vice do PP em evento com Lula

 

Em evento com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Salvador, o vice-presidente do Progressistas, João Leão, garantiu que apoiará o petista na eleição presidencial em 2022. "Estamos juntos com Lula", disse Leão, que é vice-governador da Bahia.

A fala reitera a parceria que o partido construiu com o PT no governo estadual nas eleições de 2018, quando contrariou a postura nacional da sigla, que havia indicado a senadora Ana Amélia (RS) como vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB). Na Bahia desde a quarta-feira, Lula se mostrou aberto ao diálogo. "Não nos negaremos a conversar", disse. / LEVY TELES

 

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Tasso e Leite projetam aliança em prévias

 

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador cearense Tasso Jereissati planejam se unir no processo interno que vai escolher o candidato do PSDB para a eleição presidencial de 2022. Na terça-feira passada, os dois jantaram em Brasília e conversaram sobre a ideia de apresentar somente uma candidatura nas prévias, em vez de ambos se colocarem como opção da legenda.

O partido vai escolher o candidato tucano ao Planalto no dia 21 de novembro. "A gente trabalha com a lógica de estarmos juntos. Não parece ser o caso de termos candidaturas que se enfrentem", afirmou o governador gaúcho ao Estadão.

Longe das atividades presenciais desde o início da pandemia, Tasso, que já tomou as duas doses da vacina contra a covid-19, voltou nesta semana a circular pela capital federal. Leite marcou o encontro. "Aproveitei que ele viria e combinamos de conversar. Eu e ele temos uma excelente relação", disse o governador.

Disputam o processo interno de escolha do candidato tucano em 2022 o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio e o governador de São Paulo, João Doria – que já conquistou apoios importantes na legenda, como o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Tasso também se apresenta como interessado na vaga, mas não tem viajado em campanha busca de aliados, como fazem Doria e Leite.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira passada, Doria disse que Tasso havia abandonado a disputa interna, mas o senador negou. O governador, então, se desculpou, alegando que foi induzido ao erro ao reproduzir a informação publicada por um colunista. / L.P.

 

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Aumenta pressão por nova reforma na equipe

 

CENÁRIO: Vera Rosa

 

Às vésperas das manifestações de 7 de Setembro e diante da acentuada perda de apoio popular, o presidente Jair Bolsonaro tem sido cada vez mais pressionado pelo Centrão a antecipar ao menos uma parte da reforma ministerial prevista para abril de 2022, quando os candidatos de sua equipe terão de deixar os cargos para disputar as eleições. Até mesmo os ministros mais pragmáticos, como o titular da Casa Civil, Ciro Nogueira, pré-candidato do PP ao governo do Piauí, já viram que não é possível “tutelar” Bolsonaro, mas pedem cartabranca para “fazer política”.

Com o enfraquecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o Planalto cercado por uma “tempestade perfeita” – composta por conflitos com o Supremo Tribunal Federal, inflação e juros em alta, aumento do preço dos alimentos, do gás de cozinha, desemprego e pressão pelo impeachment – , o Centrão vê nova janela de oportunidade para dobrar a aposta nas negociações.

No momento em que Bolsonaro promete uma “segunda independência” no 7 de Setembro e insiste em ameaças golpistas, partidos do bloco exigem mais cadeiras no primeiro escalão. Sob o argumento de que Guedes não tem visão política, o Centrão quer a sua cabeça e a do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, numa quadra em que se agrava a crise hídrica e há risco de apagão no País.

Até agora, porém, a fritura de Guedes não levou à explosão do Posto Ipiranga de Bolsonaro, embora ele venha perdendo combustível. Na outra ponta, embora Bento Albuquerque tenha defendido dar “a real” para a população sobre a necessidade de um duro racionamento de energia, Bolsonaro vetou a proposta, considerada “alarmista”.

Há um movimento em curso no Congresso para desidratar Economia e também substituir Bento por um nome do Senado. A intenção é recriar Planejamento, responsável pelo controle do Orçamento da União, e Indústria e Comércio Exterior. As duas pastas continuam sob o guarda-chuva do “superministério” de Guedes, que na reforma de julho já perdeu Trabalho e Previdência.

Dos 23 ministros, 11 pretendem entrar na corrida eleitoral de 2022. Outro alvo da cobiça é o Desenvolvimento Regional. À procura de um partido para se filiar, o ministro Rogério Marinho (ex-PSDB) deve concorrer a uma cadeira no Senado ou ao governo do Rio Grande do Norte. Pivô do escândalo do orçamento secreto, revelado pelo Estadão, a pasta ocupada por Marinho é amplamente disputada, assim como Educação, hoje nas mãos do evangélico Milton Ribeiro.

Enquanto isso, a crise entre os poderes vai se avolumando, com manifestações contra e a favor do governo previstas para 7 de Setembro. “O Brasil Não Te Aguenta Mais”, diz panfleto que começou a ser distribuído ontem por centrais sindicais e movimentos populares. “O grito mudou: liberdade ou morte!”, escreveu o coronel da PM Mello Araújo, presidente da Ceagesp, em defesa de Bolsonaro. Os riscos à democracia são evidentes. Só não vê quem não quer.