O Estado de S. Paulo, n. 46709, 05/09/2021. Metrópole, p. A16

'A recuperação é possível', diz líder

Pablo Pereira


Montar uma política de parcerias para combater o desmatamento e as desigualdades. Com essa abordagem, é possível reduzir o impacto danoso da devastação na Amazônia, diz Virgilio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

"É possível, sim, recuperar a Amazônia", afirma Viana, apontando dados de um gráfico que mostra uma redução de 61% no desmatamento em unidades de conservação do programa Floresta em Pé, atendidas por iniciativas com amplo apoio de governos europeus e de uma extensa rede de empresas brasileiras – como Samsung, Bradesco, Petrobrás, Coca-Cola, Lojas Americanas. Essa rede da FAS reúne 183 instituições em oito países da Pan-Amazônia e tem mais de 300 parceiros institucionais.

Entidade sem fins lucrativos, de utilidade pública e com uma gestão profissional de recursos e ações que seguem regras de "compliance", a FAS atua em pelo menos 16 áreas de proteção natural da Amazônia, envolvendo atualmente 7,5 mil comunidades ribeirinhas, além de periferias urbanas de Manaus e áreas de proteção do modo de vida indígena. São cerca de 40 mil beneficiados.

"No nosso relatório deste ano, são 582 comunidades, com 39.352 pessoas diretamente afetadas pelo programa Floresta em Pé. Na Aliança Covid, chegamos a 385 mil pessoas envolvidas", destaca Viana. "Atuamos com comunidades que ficam a 15 dias de barco." Com parcerias apoiadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e governos estrangeiros, mais a participação daquelas empresas que têm programas para a região, a FAS tem um orçamento anual de cerca de R$ 40 milhões.

"Acreditamos que há, sim, um caminho para reduzir o desmatamento e aumentar a renda. A gente conseguiu aumentar a renda média das comunidades em 202%, em valores corrigidos desde 2009. Houve melhora de todos os indicadores", diz ele. O que falta, adverte, "é vontade política dos governos, como o governo federal, que hoje está desalinhado com o básico", argumenta.

Pressão. Viana alerta, porém, que a pressão é crescente sobre a região. E cita a situação de Lábrea com o asfaltamento da BR 319, "onde ocorre uma dupla dinâmica de grilagem de terras e extração ilegal de madeira". "Quando eu fui secretário, a gente reduziu de 1.600 quilômetros quadrados por ano para 360 quilômetros quadrados por ano. Conseguimos uma redução de 66% nas taxas de desmatamento", resume.

Também coordenador da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, da ONU, Viana diz que o País tem de adotar um objetivo audacioso. "Pensar em investimentos na casa dos R$ 10 bilhões não com ações de polícia, mas sim com um plano de prosperidade verde, sustentável, e valorização das populações indígenas e ribeirinho."