O Estado de S. Paulo, n. 46709, 05/09/2021. Metrópole, p. A16

64 produtos a explorar, mas sem prejuízo ao ambiente

Pablo Pereira 


Uma cooperativa de 172 pequenos e médios produtores rurais de Tomé-Açu, 240 quilômetros ao sul de Belém, explora recursos naturais da Amazônia. Com um faturamento na casa dos R$ 46,5 milhões anuais, a Cooperativa Agrícola Mista de ToméAçu (Camta) produz e vende polpa de frutas, pimenta-do-reino e cacau, sementes oleaginosas para produção de manteigas de cupuaçu e maracujá.

A produção é para São Paulo, além de Argentina e Japão. Este ano, apesar da pandemia, a Camta cresceu 10 a 15%. Mas o movimento já foi bem maior: em 2015, chegou a R$ 80 milhões, diz o seu gestor de agronegócios Márcio Siqueira Moura. Ele explica que a cooperativa atua com produtores rurais do lugar, gerando emprego e renda. O número de beneficiados pode chegar a 5 mil pessoas.

Conforme Salo Coslovsky, brasileiro que ensina na Universidade de Nova York e pesquisa o tema, há hoje uma cesta de 64 produtos que podem ser explorados na floresta sem provocar danos ambientais. Para o professor, que publicou estudo sobre o tema no site Amazônia 2030, quando é discutido o desenvolvimento econômico na região, se fala na descoberta de moléculas, enzimas e fármacos, escondidos na floresta.

Agregar valor. "Há também o que se chama de agregação de valor, ou seja, processar localmente os produtos. Em vez de vender o óleo, fazer o xampu. Em vez de vender o cacau, produzir o chocolate. E também criar um comércio justo, que é a empresa remunerar melhor os fornecedores", explica ele.

Mas o professor acha que "é preciso fazer mais e melhor o que já é feito". Ele analisou bases de dados sobre exportações com ênfase na Amazônia e os comparou com o exterior, verificando "quem vende o que e para quem". São 5 mil produtos de um catálogo unificado.

Na pesquisa, observou cerca de mil produtos que a Amazônia já exporta. Dez são os pesos-pesados, como minério de ferro, cobre, alumínio, soja, gado. Mas há uma lista de cerca de 950 em quantidades menores feitos com qualidade. E encontrou 64 que são compatíveis com a floresta em pé – castanha, açaí, cacau, pimenta, dendê, abacaxi, manga, além de temperos, como a pimenta.

"Descobri no estudo que esses 64 produtos já trazem receita de quase US$ 300 milhões

(cerca de R$ 1,56 bilhão) por ano." Segundo ele, o mercado global desses produtos atinge quase US$ 180 bilhões (R$ 934

bilhões). E a Amazônia brasileira, com 30% das florestas tropicais do mundo, tem participação abaixo de 0,2%.