Título: Futuro de Roberto Jefferson será decidido hoje
Autor: Renata Moura e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 14/09/2005, País, p. A4

A Câmara decide hoje se cassa ou não o primeiro parlamentar envolvido nas denúncias de corrupção do governo Lula. Após ver o recurso em que alegava cerceamento de defesa ser negado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) vai enfrentar o plenário e o julgamento de seus pares. Ontem, em reuniões fechadas, o petebista passou o dia articulando com integrantes da legenda apoio de parlamentares durante a votação.

Aparentando bom humor, Jefferson prometeu um discurso sereno e equilibrado para provar sua inocência. Mas deixou claro que, naquele que poderá ser seu último discurso como deputado, não poupará ninguém, nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- Com toda essa história não tem como deixar o presidente de fora. Não vou atacar ninguém. Só falar o que sei e lembrar o que já tenho dito - disse.

Jefferson, porém, afirmou que não vai apresentar ''provas materiais'' que sustentem as acusações que levantou contra parlamentares da base aliada. Chegou a ser cogitado que ele entregaria, em plenário, os parlamentares do PTB que teriam recebido de suas mãos os R$ 4 milhões repassados ilegalmente pelo PT. Ontem, no entanto, ele negou que vá fazer isso.

Aparentemente confiante, Jefferson não apostou em uma possível vitória no plenário. Reconheceu que a votação secreta é sempre ''uma caixinha de surpresa'' e brincou:

- Se for cassado, vou cantar - disse, rindo.

A sessão da Câmara que votará o pedido de cassação será aberta às 16h pelo relator, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA). Depois de propor a cassação, ele passa a palavra a um dos advogados de Jefferson. Independentemente do que falar o advogado, o deputado terá direito a defender-se na seqüência. Depois da defesa, os deputados podem se inscrever para falar.

Ao iniciar a votação, os líderes dos partidos poderão encaminhar o voto das suas bancadas, caso desejarem. Passa-se então à votação um a um, que será secreta e que exige, para a retirada de mandato, um mínimo de 257 votos.

Acusado de ser mentor de um esquema de corrupção nos Correios, após a descoberta de uma gravação do ex-diretor Maurício Marinho recebendo uma propina de R$ 3 mil, Jefferson resolveu empreender uma cruzada contra o governo. Denunciou a existência de um ''mensalão'', que pagaria R$ 30 mil para que parlamentares do PP, PL e PMDB votassem a favor de projetos do Executivo, confirmando denúncias feitas pelo Jornal do Brasil em setembro do ano passado.

Como mentor do esquema, Jefferson apontou o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu.