Correio Braziliense, n. 21581, 18/04/2022. Política, p. 4

Estratégias para virar o jogo

Ingrid Soares


Na corrida em busca da reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem apostado em estratégias ramificadas a fim de virar a mesa a seu favor em outubro. Uma delas consiste em investir na polarização e no sentimento antipetista que ronda parte do eleitorado no país. A intenção é de, paulatinamente, relembrar denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas de intenção de voto. Por outro lado, Bolsonaro tem repetido não haver irregularidades no seu governo, apesar das suspeitas que envolvem a gestão. 

Para especialistas, as pautas ideológicas inevitavelmente serão abordadas, mas o fator decisivo será a situação econômica do país. Os analistas acreditam, ainda, que estratégias convencionais, como campanhas em televisão, devem fortalecer a atuação de Bolsonaro nas redes sociais.

Em relação à covid-19, o presidente tem tentado se eximir de culpa ante a baixa aprovação à atuação do Executivo federal na pandemia. Ele empurra a responsabilidade para governadores e prefeitos, pelas medidas restritivas que adotaram com o objetivo de conter a disseminação do vírus. Bolsonaro bate na tecla de que fez a parte dele e “não errou nenhuma” no combate à doença, que vitimou mais de 660 mil brasileiros.

Na economia, uma das cartadas do chefe do Executivo, que fez com que recuperasse parte da popularidade, foi o Auxílio Brasil, além de outras medidas populistas. Em março, por exemplo, autorizou o pagamento antecipado do 13º salário a 30 milhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o saque de até R$ 1 mil a trabalhadores com saldo em contas de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Com a disparada do preço dos combustíveis, Bolsonaro  trocou o comando da Petrobras — saiu o general Joaquim Silva e Luna e entrou José Mauro Coelho — na intenção de frear os reajustes, até agora sem resultado prático.

Além de buscar novos eleitores, o plano do presidente passa por manter fiel a base que o elegeu em 2018. É o caso dos evangélicos, com os quais tem se reunido frequentemente, além de acenar à agenda de costumes discursando contra o aborto e as drogas, e a favor do armamento.

O eleitorado feminino, público no qual mais enfrenta rejeição, é outro alvo que Bolsonaro busca atrair. Em viagens pelo país, tem sido acompanhado pela primeira-dama Michelle, carismática e simpática. Na semana passada, ela participou de quatro agendas, no Rio Grande do Sul e no Paraná.

Redes Sociais

Entre parlamentares, é consenso que as redes sociais serão um fator determinante para as eleições deste ano e que Bolsonaro aposta novamente na estratégia que o elegeu em 2018. “Ele é muito bom de redes sociais, soube usá-las bem e conseguiu o primeiro mandato, em grande parte, por essa atuação”, disse ao Correio o deputado Hildo Rocha (MDB-MA).

O também deputado Lincoln Portela (PL-MG) ressaltou que o presidente conta não só com suas redes, mas também com os perfis de influenciadores que o apoiam. “A atuação sempre foi muito boa, dele e da militância. Tem uma base que a gente estima em 40 milhões de seguidores”, destacou.

Ataques a opositores, disseminação de notícias falsas e incitação ao eleitorado também são fatores esperados nas eleições pelo deputado Glauber Rocha (PSol-RJ). “Bolsonaro não tem limites para manter sua base ativa, sempre gerando fatos que ou são mentirosos ou são aglutinadores”, afirmou.

O parlamentar acredita que a atuação do governo durante a pandemia serve como espelho para o pleito e que o discurso do presidente pode se radicalizar. “Se para aglutinar sua base ele teve de negar as vacinas, defender cloroquina, tomar posições que são até contraditórias... Bolsonaro não tem limites, ele vai fazer tudo o que for possível”, frisou. “Quando o desespero for batendo, e ele for verificando que não tem chance de ter uma maioria popular para os seus projetos, isso tende a se intensificar.”