Título: Oposição pede cassação de Severino
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 14/09/2005, País, p. A7

Os partidos de oposição protocolaram ontem, no Conselho de Ética da Câmara, o pedido de abertura de processo contra o presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), acusado de pedir propina. Assinaram o documento, os presidentes do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), do PDT, Carlos Lupi, do PPS, deputado Roberto Freire (PE), do PV, José Luiz de França Penna e do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG). Depois de idas e vindas e de várias reuniões para discutir o que fazer em relação a Severino Cavalcanti (PP-PE), o PT, principal partido da base governista, decidiu assumir o desgaste de não apoiar a abertura de processo contra o presidente da Casa, assim como o PCdoB e o PSB. O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), disse que o processo contra Severino deve ser instalado no início da próxima semana. Além dos signatários, também apoiaram a representação, parlamentares da esquerda petista, do PSOL e do PMDB. Porta-voz do grupo, o deputado Roberto Freire (PE) resumiu a perplexidade com o momento político vivido pela Casa.

- Estamos diante de um fato inédito: um presidente da Câmara envolvido em corrupção. É incrível que o Brasil, após a concretização da democracia, esteja assistindo um momento como esse - lamentou Freire.

Apesar de a perícia do suposto documento - assinado por Severino prorrogando a concessão do restaurante Fiorella - não ter sido concluída e o suposto cheque com o pagamento de parte da propina não ter sido revelado, Freire alegou que não havia como agir de outra forma. Para ele, o Conselho de Ética é a instância ideal para o contraditório.

A costura política não foi tão fácil. O PFL reuniu sua Executiva Nacional para autorizar Bornhausen a assinar a representação. O PSDB rachou, dividido principalmente quanto ao momento adequado para representar contra Severino. Alguns temiam que a assinatura de Azeredo na representação acendesse a ira do PP contra o tucano mineiro, cujo nome não foi incluído na relação de parlamentares cassáveis pelo envolvimento com Marcos Valério.

Se a oposição enfrentava dificuldades para se articular, os governistas passaram o dia no fio da navalha. O líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), aproveitou a reunião semanal dos partido aliados para pedir que não assinassem o documento da oposição. O líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS), anunciou que o partido representaria contra Severino - na Corregedoria da Câmara, não no Conselho de Ética.

- Defendemos os princípios constitucionais do direito de defesa. A perícia no documento precisa ser feita. Se as denúncias forem comprovadas, acabou-se a gestão Severino Cavalcanti - justificou o petista.

Um dos críticos mais contundentes de Severino, Fernando Gabeira (RJ) tripudiou sobre a decisão do PT:

- É uma representação B. Escolherem um meio-termo para não serem acusados de proteger Severino.