O Estado de S. Paulo, n. 46711, 07/09/2021. Política, p. A7
Moraes ordena prisões às vésperas das manifestações
Pepita Ortega
Fausto Macedo
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou uma série de medidas contra investigados por ameaças às instituições e pelo financiamento de manifestações antidemocráticas previstas para hoje, no Dia da Independência. Além de determinar a prisão preventiva de dois suspeitos, Moraes ordenou buscas e o bloqueio de saques de contas bancárias e de chaves Pix ligadas a duas entidades de produtores rurais alvo da investigação. O ministro atendeu a pedido da Procuradoria-geral da República.
A Polícia Federal cumpre as diligências desde sexta-feira. Um dos presos foi o bolsonarista Marcio Giovani Niquelatti, detido anteontem, em Santa Catarina. Conhecido como “professor Marcinho”, ele afirmou, em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, que um empresário “grande” está oferecendo dinheiro pela “cabeça” de Moraes, “vivo ou morto”. “Agora no Brasil vai ser assim, vai ter prêmio pela cabeça deles (ministros do Supremo)”, disse Niquelatti durante a live.
O outro investigado alvo de mandado de prisão é Cassio Rodrigues de Souza, que, em postagens nas redes, fez ameaças de morte a Moraes e à família do ministro. Souza foi preso ontem, em Minas. Ele se apresenta como policial militar. Nesta mesma investigação, a PF capturou na sexta-feira, o blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza. A corporação ainda busca cumprir uma ordem de prisão expedida contra o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o “Zé Trovão”.
Suspeitas de financiar atos antidemocráticos neste 7 de Setembro, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja e a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso tiveram saques bloqueados e foram alvo de buscas. Moraes ordenou que sejam identificadas todas as transferências, a partir de R$ 10 mil, que saíram das contas das associações para outras entidades ou terceiros, desde o dia 10 de agosto.
Prefeito. Também ontem, na mesma investigação sobre atos antidemocráticos, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão na residência e no gabinete do prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar João Alba. Conhecido como “Gringo”, ele foi flagrado no último dia 26 levando R$ 505 mil em dinheiro vivo no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Cerro Grande do Sul tem 12 mil habitantes e fica a 117 quilômetros de Porto Alegre.
O dinheiro foi encontrado armazenado em caixas de papelão durante a inspeção por raio X. De acordo com a PF, ao ser abordado no aeroporto, o prefeito, que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro, disse, inicialmente, que não sabia o valor total transportado. Na sequência, afirmou que carregava R$ 1,4 milhão em espécie.
A apreensão acabou entrando na mira da CPI da Covid, que quer saber se o prefeito de Cerro Grande do Sul está envolvido no financiamento de manifestações antidemocráticas e se o dinheiro apreendido foi usado para essa finalidade. Na quarta-feira passada, a cúpula da comissão manifestou a intenção de comunicar o caso a Moraes.
‘Incitação’. O inquérito sobre a “ilícita incitação da população, por meio das redes sociais, a praticar atos criminosos, violentos e atentatórios ao estado democrático de direito e às suas instituições” durante o feriado de hoje foi aberto pela PF após Moraes atender a pedido da PGR. Na mesma decisão em que determinou a abertura da investigação, no último dia 20, o ministro ainda determinou a realização de buscas contra o deputado bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ) e o cantor Sérgio Reis, além de impor medidas como a proibição de os investigados chegarem perto da Praça dos Três Poderes.
Os pedidos de buscas foram feitos pela subprocuradora Lindôra Araújo. Na ocasião, ela argumentou que a articulação do grupo não se resumia à “mera retórica política”. A manifestação poderia “atentar contra a democracia”. Seria, de acordo com a PGR, um “levante”.
“O objetivo dos investigados é ‘dar um ultimato no presidente do Senado’, ‘invadir o prédio do STF’, ‘quebrar tudo’ e retirar os magistrados dos respectivos cargos na ‘marra’”, relatou o ministro do STF, na decisão. De acordo com a PGR, o movimento começou a tomar forma em 25 de julho. Pelas redes sociais o movimento se organizava em busca de recursos e de adeptos.
O prefeito de Cerro Grande do Sul negou irregularidades. As defesas dos outros citados não se manifestaram até a conclusão desta edição.