O Estado de S. Paulo, n. 46711, 07/09/2021. Política, p. A7

Dias de elogios ao militarismo e de protestos

Liz Batista


Repleto de significados, o Sete de Setembro tem sido habitualmente utilizado pelos governos, ao longo da história, para exaltar a unidade nacional e emplacar visões favoráveis aos mandantes do momento. Exemplo típico dessa tradição foi, há exatamente um século atrás, o centenário da data, em 1922, quando o presidente Epitácio Pessoa promoveu a Exposição Internacional do Centenário, no Rio, como vitrine do progresso brasileiro para o mundo. Já nos anos pós-1964, a ditadura militar adicionou à festa política a exaltação ao militarismo. Tanto que as celebrações se estendiam além do dia 7, para a chamada Semana da Pátria – e se espalharam País afora.

O ápice dessas celebrações aconteceu em 1972, nos 150 anos da Independência. O governo Médici negociou com o governo militar português que os restos mortais de D. Pedro I fossem transladados para o Brasil. Antes de serem abrigados na cripta do Monumento à Independência, em São Paulo, o cortejo oficial passou por todas as capitais do País. No cinema, a estreia do longa Independência ou Morte, de Carlos Coimbra, em 2 de setembro de 1972, ajudou a promover a imagem do grande herói da Independência. Coube ao galã máximo das telenovelas, Tarcísio Meira, dar vida a D. Pedro I nas telas. O filme, segundo Médici, marcava uma nova era do cinema brasileiro.

Ainda durante a ditadura militar, mas em um contexto já diferente dos chamados “anos de chumbo”, as celebrações da Semana da Pátria do governo João Figueiredo tiveram alta adesão do público. Já aprovada a Lei de Anistia (1979), o governo caminhava para a abertura democrática do País. 

Redemocratização. Com o fim do regime militar, a comemoração assumiu um outro tom, passando a celebrar a harmonia entre os Poderes em um governo democrático. Atos civis com críticas aos governantes entraram também em cena e muitos políticos tiveram de buscar estratégias para escapar das vaias do público nas arquibancadas ou calçadas.

Nesse novo ambiente, ganhou espaço o chamado Grito dos Excluídos, inspirado pela Pastoral Social da Igreja Católica e por entidades da esquerda, que elegeram como tema central a crítica ao modelo econômico e à exclusão social. O Grito chegou a reunir, em 2001, 200 mil pessoas em diferentes cidades do País.

Mais recentemente, em 2011, uma marcha contra a corrupção comprometeu as festividades programadas pelo governo de Dilma Rousseff. O protesto, convocado pela internet, reuniu cerca de 25 mil pessoas na Esplanada e rivalizou com o desfile oficial, que aconteceu ali perto. No 7 de Setembro do ano seguinte, tapumes foram instalados por toda a extensão da Esplanada dos Ministérios, para impedir que o desfile oficial tivesse de conviver com os protestos.