Título: O nascimento da nova esquerda
Autor: Paula Barcellos*
Fonte: Jornal do Brasil, 14/09/2005, Internacional, p. A11

Criado em fevereiro deste ano, o WASG (Alternativa eleitoral: trabalho e justiça social) é o mais novo partido de esquerda da Alemanha. Recém-fundado, já nasce com uma preocupação: não seguir os rumos, por exemplo, do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil. O que já chamou a atenção da esquerda européia, hoje, é objeto de crítica. Ao menos é o que atesta, ao JB, o dirigente do WASG, Michael Pruetz:

- O PT não é mais exemplo, porque tentou corromper deputados para ganhar votos. Além disso, o (presidente) Lula não conseguiu tocar o programa social e cumprir os desejos do grupo que o elegeu. Espero que o WASG não siga este caminho.

Como o partido foi formado há apenas 7 meses, não está concorrendo as eleições deste domingo. Está, desta vez, apoiando o PDS (Partido do Socialismo Democrático), seguidor das ideologias do SD - partido único da extinta Alemanha Oriental - que teve grande sucesso nas eleições estaduais do ano passado, sendo a segunda sigla mais votada no Leste do país.

À frente do WASG está Oskar La Fontaine, que militou durante 20 anos no SPD (Partido Social Democrata), legenda do atual chanceler Gerhard Schröder. Dissidente da sigla há 5 anos, La Fontaine se juntou a metalúrgicos, servidores públicos e outros ex-integrantes do SPD para formar o WASG, que em poucos meses já reúne 11 mil membros. O foco dessa organização partidária, conhecida na Alemanha como a nova esquerda, está numa política de reajuste fiscal que enfoque programas sociais.

- Tenho que admitir que há lacunas em nosso programa político, como a ausência de medidas para o meio ambiente e para as mulheres. Mas aos poucos serão preenchidas - explica Pruetz, defendendo a existência de um salário mínimo em torno de 1.400 euros.

O dirigente acredita que a queda de pontos nas pesquisas pré-eleitorais nos últimos dias da candidata da oposição Angela Merkel, do CDU (Partido Democrata Cristão), possa ser em parte justificada pelo discurso adotado de querer introduzir muitas reformas com mais rapidez. Aumentar os impostos, segundo Pruetz, seria uma das medidas imediatas de Angela. No entanto, ele não vê grandes diferenças entre os programas do CDU e do SPD:

- No fundo, quase não há distinção. A retórica que é diferente. Em um aspecto, porém, eles se distanciam: enquanto o Schröder tem uma postura mais pacifista, Merkel tem uma política de guerra.

Como muitos membros do WASG são dissidentes do SPD, os votos que antes iam para o atual chanceler agora migram para o PDS. O que, em uma disputa acirrada, beneficiaria Angela Merkel. Mas essa não parece ser uma preocupação do dirigente da nova esquerda:

- Não estamos tirando votos do SPD. Os eleitores que vão votar em nós são, sobretudo, os desiludidos, inclusive alguns cristãos mais da direita.

*A repórter viajou a convite do governo alemão