O Estado de São Paulo, n. 46743, 09/10/2021. Economia p.B3

 

Aplicações perdem corrida para inflação

 

Opções de risco, só criptomoedas e Bolsa têm ganho real nos últimos 12 meses; especialista vê perda de poder aquisitivo do brasileiro


Erika Motoda

Heloísa Scognamiglio 
 

Os investidores que conseguiram ter ganhos acima da inflação nos últimos 12 meses foram aqueles que apostaram no bitcoin e no Ibovespa (principal indicador da B3). Isso porque, segundo um levantamento da plataforma de informações financeiras Economatica, a rentabilidade real desses dois investimentos foi de 250% e de 6,5%, respectivamente, até o mês de setembro. Já outros produtos financeiros, como poupança, fundos de renda fixa e até moedas estrangeiras, tiveram um desempenho negativo durante o mesmo período avaliado.

A rentabilidade real é a melhor forma de aferir se houve aumento ou perda do patrimônio, pois indica o quanto cada aplicação rendeu e, depois, desconta o valor corroído pela inflação. "O investidor pode até pensar que tem um valor maior para sacar do que ele havia aplicado há um ano (por causa do ganho nominal). Então, ele pensa que não houve perda de dinheiro. Mas, com a inflação, você não está perdendo dinheiro. Você está perdendo poder aquisitivo", explicou Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica.

Ao analisar o bom desempenho do Índice Bovespa, o professor de Finanças da FGV-SP Fábio Gallo diz que "o ano para a Bolsa foi bom porque, no ano passado, as taxas de juros caíram muito, e as pessoas não tinham muita alternativa na renda fixa e foram para a Bolsa". Em setembro de 2020, a Selic estava em 2% ao ano.

No caso do bitcoin, ele chama atenção para o fato de ser uma opção voltada a um público mais restrito formado por investidores de perfil mais agressivo. "É um ativo muito volátil, que depende de muita especulação", disse Gallo.

Para Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, neste ano a inflação "atropelou todo mundo". "Ela causou muita perda para quem ficou indexado à taxa de juros, para quem permaneceu em fundo DI ou CDB/DI sem observar uma diversificação. Porque, ao notar o cenário de alta da inflação, teria dado tempo de diversificar para uma aplicação indexada ao IPCA. E é importante o investidor sempre olhar o princípio da diversificação mesmo na renda fixa", afirmou ele (veja quadro acima).

Rocha afirma que, em momentos de alta de preços, os títulos atrelados à inflação seriam as melhores opções de investimento. "Há também alguns setores da Bolsa que acompanham bem esse movimento inflacionário, setores que conseguem repassar o preço , como o varejo, por exemplo. Mas, neste caso, já estamos falando em apostar na renda variável, então é preciso fazer uma análise cuidadosa", completa Rocha.

O especialista ressalta que, apesar das perdas, é preciso lembrar que estamos em um período atípico, por conta da pandemia do novo coronavírus. "Agora, o interessante seria aprender a lição para não perder mais", diz. /

 

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Expectativa na Bolsa era de um IPCA ainda pior

Na Bolsa brasileira, a B3, a expectativa era de um índice de inflação ainda mais duro. Por isso – e pela geração de vagas de emprego nos Estados Unidos também abaixo do previsto –, a Bolsa brasileira recuperou as perdas da semana. Ontem, o Ibovespa fechou com alta de 2,03%, aos 112.833,20 pontos – na semana, baixou as perdas para apenas 0,06%. No câmbio, o dólar ficou estável, com variação negativa de 0,02%, a R$ 5,5161.

Além disso, o aumento dos combustíveis e do gás teve efeito positivo no Ibovespa. "O reajuste anunciado pela Petrobras para a gasolina e o gás de cozinha ajudou as ações da empresa a contribuir para a alta do índice, em dia muito forte para mineração e siderurgia. Varejo, shoppings e construção civil também performaram muito bem", diz Romero Oliveira, da Valor Investimentos.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, ressalta que "a inflação está concentrada em gastos de subsistência, com pressão de três grupos importantes: habitação, devido ao encarecimento da energia elétrica residencial; transporte, com a alta dos combustíveis, relevante, pelo câmbio e pelo avanço dos preços internacionais do petróleo; e alimentação em domicílio, em desaceleração ante agosto, mas em alta de 1,19%".