Título: Um dia para ficar na história
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, País, p. A2

A Câmara viveu ontem um dos piores momentos de sua história recente. No instante mais agudo da crise na Casa, seu presidente, Severino Cavalcanti (PP-PE), ficou sem condições políticas de permanecer no cargo. E abdicou de conduzir a sessão que cassou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) por 313 votos a favor e 156 contra. ¿ É insustentável a presença de Severino na presidência. Se ele tiver dignidade, renunciará ¿ cravou o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS).

Era o resumo da adesão dos partidos da base governista à escalada da oposição contra Severino. Com os líderes constrangidos, o PT pediu em nota a substituição e voltou a discutir a sucessão, deixando claro que pretende, como maior bancada da Casa, reivindicar a cadeira. O movimento ficou cristalino logo de manhã, quando o empresário Sebastião Buani mostrou a digital do presidente da Câmara no recebimento do mensalinho. Buani exibiu a cópia de um cheque, endossado por Gabriela Kenia S. S. Martins, secretária de Severino. O saque de R$ 7,5 mil, de 30 de julho de 2002, apareceu como a prova da propina e da quebra de decoro.

¿ Ele não tem mais como continuar no cargo ¿ concordou o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Foi neste contexto que o vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-BA), ficou incumbido de presidir a sessão que julgou Jefferson. Pouco antes, líderes foram até a residência de Severino e pediram que renunciasse. Ele pediu um prazo de 72 horas para decidir, mas a aposta generalizada era pela desistência de permanecer no cargo.

A confusão tornou-se ainda maior após uma decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal , Nelson Jobim. que concedeu uma liminar a seis deputados petistas acusados de receberem mensalão, suspendendo o andamento do processo aberto contra eles no Conselho de Ética da Câmara.

Tamanha foi a confusão criada que o depoimento do assessor palaciano Luiz Gushiken, na CPI dos Correios, recebeu pouca atenção dos parlamentares.

No fim da tarde, chegou a hora do show particular de Jefferson, que usou a tribuna por 41 minutos para atacar adversários, acusar o Planalto de patrocinar o mensalão e proclamar inocência. Chegou a dizer que Lula é o responsável pelo esquema de corrupção, por ser omisso. Deixou claro, contudo, que não contava mais com o mandato.

¿ Saio de cabeça erguida. Mostrei ao Brasil o que é o governo Lula ¿ afirmou, antes de sair, aplaudido por amigos do plenário e das galerias.