O Estado de S. Paulo, n. 46712, 08/09/2021. Política, p. A12

Atos da oposição fazem defesa da democracia
Gilberto Amendola
Julia Affonso
Bruno Villas Bôas


A defesa da democracia e críticas ao presidente Jair Bolsonaro foram as principais bandeiras do Grito dos Excluídos, manifestação promovida ontem por grupos de esquerda em vários Estados. Historicamente, o movimento foca seus atos no combate à pobreza e ao desemprego. "Desta vez, a questão da defesa da democracia se impôs. Não sair às ruas seria um acovardamento. No futuro, seremos lembrados como parte dos setores que atuaram para impedir um golpe", afirmou o coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim.

De acordo com os organizadores, protestos contra Bolsonaro foram realizados em mais de 170 cidades, ontem.

Em São Paulo, a manifestação no Vale do Anhangabaú começou às 14h30, com um ato ecumênico e falas de representantes católicos, evangélicos e de religiões de matizes africanas. Sindicatos ligados à CUT e movimentos sociais também fizeram parte do evento. Os organizadores calcularam a presença de 50 mil manifestantes. Já a polícia falou em 15 mil.

Entre as figuras políticas que discursaram durante o ato estavam a deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffmann; o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT); e o líder do movimento sem-teto e candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo no ano passado, Guilherme Boulos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu à manifestação, mas foi citado em discurso.

O ex-prefeito Fernando Haddad afirmou que Bolsonaro "conseguiu dividir os brasileiros no Dia da Independência". Segundo Haddad, os defensores da democracia estavam no Anhangabaú, enquanto os defensores da ditadura se mobilizavam na Paulista. "Depois de três anos de destruição dos empregos, da vida e da esperança, o que essas pessoas estão fazendo na Paulista? Por que não estão aqui com a gente?", discursou o ex-prefeito.

Boulos afirmou que o 7 de Setembro mostrou que a oposição ao governo também estará nas ruas. "Nós não temos medo de ameaças golpistas. O medo está do lado de lá", completou.

O ato contou com representantes dos principais partidos de esquerda. Foi sugerido aos manifestantes que não andassem com adesivos ou bandeiras nas estações de Metrô, para evitar possíveis confrontos com apoiadores de Bolsonaro. O Grito em São Paulo não registrou nenhuma ocorrência relevante.

Pandemia. Manifestantes de oposição ao governo se reuniram desde às 9h na Torre de TV, área central de Brasília. Eles pediram a saída de Bolsonaro da Presidência. O local foi reservado aos grupos contrários ao presidente, enquanto seus apoiadores se concentraram na Esplanada dos Ministérios.

Estudantes e representantes de movimentos sociais e de defesa do ambiente, de sindicatos e de partidos também comparecem. Os manifestantes usaram máscara, mas não houve distanciamento social. Os grupos estenderam faixas pedindo o impeachment de Bolsonaro e contra o marco temporal na demarcação de terras indígenas. Lembraram ainda as mais de 580 mil mortes pela covid-19.

No Rio, os organizadores do protesto estimaram 20 mil pessoas. A Polícia Militar informou que não faz estimativas de público em manifestações. Com faixa de "Fora Bolsonaro" e "Bolsonaro genocida", os manifestantes iniciaram às 11h uma caminhada que fechou as quatro pistas da Avenida Presidente Vargas, principal via do Rio, e seguiram pela Avenida Rio Branco. Terminaram com um ato na Praça Mauá, em frente ao Museu de Arte do Rio (MAR).

Guardas municipais e policiais militares acompanham o protesto e orientaram o trânsito na região. Não houve registro de ocorrências. / Gilberto Amendola, Julia Affonso e Bruno Villas Bôas