Título: Propina com endosso
Autor: Hugo Marques e Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, País, p. A3

O empresário Sebastião Augusto Buani colocou a carreira política do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, na beira do precipício. O dono da rede de restaurantes Fiorella apresentou à Polícia Federal cópia do cheque de R$ 7,5 mil que diz ter entregue nas mãos de Severino em 2002. O cheque foi endossado e descontado pela secretária particular de Severino, Gabriela Kênia da Silva Santos Martins, que ontem foi intimada pela PF a prestar novo depoimento. A apresentação do cheque, no prédio da PF, deixou Severino acossado na residência oficial da Câmara. Abatido, recebeu a visita de parlamentares e assessores. Até o fim de noite, esteve reunido com o Corregedor da Câmara, Ciro Nogueira, e o com o quarto-secretário, João Caldas. Apesar das pressões para que entregasse o cargo ontem mesmo, Severino pediu um prazo de 72 horas para decidir se renuncia à presidência e ao mandato de deputado ou se sai de licença.

O presidente da Câmara convocou a secretária Gabriela para negociar uma versão que justificasse o cheque. Severino resolveu abrir mão de presidir a sessão que julgaria Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Na sexta-feira, em depoimento como testemunha à Polícia Federal, Gabriela negou a existência do mensalinho. Ontem, ele foi convocada novamente à PF, agora na condição de investigada.

Para a PF, o cheque é a prova mais cristalina que apareceu até agora para confirmar a história do mensalinho. Descontado na boca do caixa da agência do Bradesco da quadra 511 Sul, no dia 30 de julho de 2002, o cheque traz no verso as assinaturas de Buani e de Gabriela. Na segunda-feira, Buani mostrou à PF o extrato bancário com retirada de R$ 40 mil, em 4 de abril de 2002.

O empresário contou que Severino ia pessoalmente ao restaurante do décimo andar da Câmara dos Deputados ¿ onde o grupo Fiorella arrenda um dos restaurantes ¿ para cobrar a propina da autorização de arrendamento e prorrogações de contratos. O empresário diz ter reclamado que não tinha mais dinheiro para a propina. Severino ¿ segundo ele ¿ mandou que ¿tirasse da conta na Suíça¿.

¿ Durante as refeições, ele sempre dava um aperto, dava um toque ¿ contou Buani.