Título: Entre a fama e as sombras
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, País, p. A4

Eleito com o apoio maciço do baixo clero - a maioria silenciosa da Câmara - e com um empurrãozinho de última hora da oposição - ansiosa para ajudar a emplacar mais uma derrota do governo - o deputado Severino Cavalcanti (PP) encenou nos últimos sete meses uma das mais rocambolescas carreiras de presidente da Câmara de que se tem notícia. Defendeu o nepotismo, atacou os homossexuais e pediu ''penas mais brandas'' para os acusados no escândalo do valerioduto. No início do mandato, insurgiu-se contra o atropelo das medidas provisórias enviadas pelo governo, mas quando a própria cabeça ficou a prêmio - após a denúncia do mensalinho - invocou as boas relações do seu partido com o Planalto, apesar da tsunami provocada pela crise do mensalão. As relações com o governo, aliás, se caracterizaram pelo mesmo nível de instabilidade que vem marcando as alianças arquitetadas pelos formuladores políticos do Planalto. Quando a oposição, arrependida, quis apressar o processo de cassação de Severino, o PT e aliados titubearam em oferecer apoio imediato. Os líderes alegaram que as provas ainda não eram consistentes e até vislumbraram a possibilidade do affair se estender, contribuindo assim para distrair as atenções da opinião pública, concentrada no escândalo do mensalão. Só quando apareceu o cheque para a secretária, os governistas jogaram a toalha.

Aos 75 anos, com três mandatos de deputado federal e sete na Assembléia Legislativa de Pernambuco, Severino Cavalcanti encarna o típico político à moda antiga, interessado em conquistar nacos do poder com orçamentos volumosos como ''aquela diretoria da Petrobras que fura poço'', conforme suas palavras, forma corriqueira de parlamentares e governantes se perpetuarem no poder e irrigarem as campanhas eleitorais.

Preocupado com o seu reduto, o município de João Alfredo, em Pernambuco, pouco antes do escândalo do mensalinho foi personagem de episódios que mostram a forma paroquial de fazer política. Usou sua influência para ajudar dois conterrâneos em apuros: um deles, bêbado, depredara um bar. O outro dirigia com documentação vencida.