Título: Unidos para derrubar Severino
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, País, p. A4

A revelação de que a secretária de Severino Cavalcanti (PP-PE) descontou um cheque de Sebastião Buani uniu governo e oposição em um mesmo discurso e deflagrou a corrida para encontrar um nome para sua sucessão. Durante a entrevista do empresário, deputados já disputavam microfones e câmeras para reforçar os pedidos de derrubada do presidente da Casa. Os governistas, até anteontem cautelosos, aderiram ao ¿fora, Severino¿ minutos depois. Muitos dos que distribuíam declarações não deram importância às contradições na história de Buani, como o fato de o cheque ser de 2002 ¿ Buani afirmara ter pago o ¿mensalinho¿ em 2003.

¿ A prova material altera completamente a situação. Na minha opinião, o presidente Severino deve renunciar à presidência da Câmara ¿ afirmou o líder do PT, Henrique Fontana (RS), que até anteontem era contra o processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara.

Depois do cheque, o PT decidiu apresentar o pedido de cassação, que se somaria ao já feito pela oposição ontem, e foi acompanhado pelo PSB.

Aliados de Severino reconheceram que pouco havia a fazer para salvá-lo.

¿ Juridicamente não há nada contra ele, mas politicamente ficou insustentável ¿ comentou Bendito Dias (PP-AP).

Não há precedente de um presidente da Câmara que tenha renunciado ou sido destituído por meio de cassação. Ibsen Pinheiro (PMDB), cassado em 1994 sob acusação de envolvimento no esquema dos Anões do Orçamento, já não era presidente da Casa quando perdeu o mandato. No Senado, Jader Barbalho (PMDB) se afastou da presidência e acabou cassado por acusações de desvio de verbas do Banpará, em 2001.

Um dos expoentes do movimento pela destituição de Severino, o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição, ironizou ao dizer que o cheque ¿era a prova que não faltava¿.

¿ O presidente da Câmara poderia ser cassado apenas por ter mentido. E como ele mentiu nesse episódio ¿ disse.

O tucano Alberto Goldman (SP), líder do partido na Câmara, negou que o PSDB tivesse fraquejado na intenção de pedir a cassação de Severino, embora integrantes da legenda tenham defendido o adiamento do pedido de abertura.

¿ Para mim não havia necessidade de contrato, de cheque. As provas testemunhais são muito mais fortes. Acabou a era Severino ¿ sentenciou.

Governo e oposição procuram agora um nome para comandar a casa. O perfil desejado é de um político que não seja nem um governista incondicional nem um oposicionista radical. Eduardo Campos (PSB-PE) e Sigmaringa Seixas (PT-DF) são os nomes mais citados.