Título: Jefferson fica inelegível até 2015
Autor: Karla Correia , Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, País, p. A5

¿Esta é última semana de inverno. A primavera está chegando¿, disse Jefferson, segundo seus assessores, ao saber do resultado da votação que o cassou, tornando-o o primeiro parlamentar a perder o mandato na atual crise por deliberação do plenário. O petebista fica agora inelegível até 2015 e só poderá concorrer a cargo eletivo nas eleições municipais de 2016. A vaga aberta na Câmara será ocupada pelo suplente, Fernando Gonçalves, candidato derrotado à prefeitura de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Jefferson, há 23 anos deputado federal, foi o responsável pelo surgimento da pior crise política do governo Luiz Inácio Lula da Silva ao denunciar o suposto esquema de pagamento de mesada pelo PT a deputados de partidos aliados.

Em conseqüência das denúncias, dois ministros deixaram os cargos, dois deputados renunciaram, toda a direção do PT foi afastada e uma série de diretores de estatais perderam o emprego.

Antes de ser cassado, Roberto Jefferson subiu à tribuna, e um silêncio tumular se apoderou do ambiente. Olhou as galerias e começou a citar o nome de mulheres próximas a ele, entre esposa, filhas, mãe, assessoras, avó. Foi aplaudido quando comparou sua situação à do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

¿ O ex-assessor de Palocci, Rogério Buratti, diz que pegava ¿mensalinho¿ para o ministro quando ele era prefeito de Ribeirão Preto. Ele nem vem à CPI. Eu vou ser cassado. Por que julgamentos tão diferentes?

Houve nova manifestação de apoio ao petebista quando ele afirmou que Lula era como o ex-presidente nacional do PT, José Genoino, que alega inocência nos empréstimos contraídos por Marcos Valério.

¿ Lula adora viajar, mas não gosta de governar. Se ele não pecou pela ação, pecou pela omissão. A corrupção está do outro lado, não aqui.

O dia D da carreira política de Jefferson foi tranquilo. Ele passou a manhã em casa e quase não recebeu visitas. Fez os tradicionais exercícios de canto, ensaiou ¿graves e agudos¿, mas não chegou a cantar uma música, como de costume.

Em companhia da filha mais velha, a vereadora Cristiane Brasil (PTB-RJ), e da mulher, Jefferson saiu do seu apartamento às 16h10, já com a sessão aberta na Câmara. Escoltado por seguranças, Jefferson seguiu para o plenário, onde recebeu abraços. A filha acompanhou tudo de perto com uma câmera digital na mão, fotogrando cada momento da sessão. Desde terça-feira, Cristiane se dedica a fazer uma espécie de documentário dos últimos dias de mandato do pai. (*) Colaboraram Fernando Exman e Sérgio Prado