O Estado de São Paulo, n. 46747, 13/10/2021. Política p.A7

 

CPI desiste de depoimento de Queiroga

Senadores consideram que ministro, ouvido duas vezes pela comissão, não teria muito a contribuir; 'Palco para bolsonarista', disse Aziz


Lauriberto Pompeu


Na reta final de seus trabalhos, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado desistiu de ouvir novamente o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. No lugar dele, que seria o último depoimento antes de o colegiado votar o relatório final, senadores pretendem convocar o médico pneumologista Carlos Carvalho, contrário ao chamado "kit covid", além de parentes de vítimas.

O novo depoimento de Queiroga estava marcado para a segunda-feira e seria a terceira vez que seria ouvido pela comissão. Em reunião ontem, porém, integrantes do colegiado avaliaram que a nova oitiva serviria apenas para dar palanque ao ministro da Saúde, pois não acreditam que ele vá prestar informações relevantes à CPI. "Não vai contribuir muito. Palco para bolsonarista", afirmou o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

A nova convocação foi aprovada na semana passada após o Ministério da Saúde não responder a questionamentos enviados pela CPI relacionados ao calendário de vacinação contra covid em 2022. Na sexta-feira, porém, Queiroga concedeu entrevista a jornalistas e respondeu parte das perguntas.

O médico Carlos Carvalho, que deve depor no lugar do ministro, coordenou um estudo que reprova fortemente o uso de remédios como a hidroxicloroquina, cloroquina e a azitromicina em pacientes da doença, como revelou o Estadão na semana passada.

O estudo comandando por Carvalho seria analisado no início de outubro pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), órgão do Ministério da Saúde, mas foi retirado de pauta.

A decisão do órgão técnico é esperada com preocupação pelo Palácio do Planalto por causa das potenciais consequências políticas e jurídicas. A recomendação indiscriminada de drogas que não funcionam em detrimento de medidas como incentivo à vacinação e ao distanciamento social é uma das frentes atacadas pela CPI.

A convocação de Carvalho, porém, ainda precisa ser votada, o que deve ocorrer em sessão extraordinária da comissão na sexta-feira.

Relatório. De acordo com Aziz, a próxima semana será a última da CPI. Após os depoimentos de segunda-feira, a sessão do dia seguinte será reservada para a leitura do parecer do relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL). Os senadores votarão no mesmo dia se aprovam o relatório do emedebista.

Em reunião no dia 5 de outubro, Renan disse que o relatório final da comissão vai pedir "com certeza" o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro. A CPI pretende enquadrar Bolsonaro em crimes como charlatanismo, infração a medida sanitária preventiva e crime contra a humanidade por conta da atuação na pandemia.

Além de Bolsonaro, Renan também vai propor que Queiroga seja indicado. "Ele é uma versão piorada do general (Eduardo) Pazuello (ex-ministro da Saúde, que também será alvo do relatório da CPI), que não entendia nada de política pública de saúde. Queiroga parece entender e reproduz a lógica de 'um manda o outro obedece'. Tudo para se manter no cargo", disse ontem o relator da CPI.

• Palco "(O depoimento de Marcelo Queiroga) Não vai contribuir muito. Palco para bolsonarista" Omar Aziz (PSD-AM) PRESIDENTE DA CPI DA COVID NO SENADO