Título: Morais defende Dirceu
Autor: Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, País, p. A7

Ouvido como testemunha de defesa do deputado José Dirceu (PT-SP) no processo do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o jornalista e escritor Fernando Morais afirmou ontem que considera o ex-ministro da Casa Civil é um ''homem de caráter''. O elogio ao amigo - de quem recebeu há três meses uma recepção de desagravo em função da proibição de venda de seu livro Na toca dos leões - não se estendeu ao governo do presidente Lula, criticado por reproduzir, segundo ele, a cartilha econômica da administração anterior.

O escritor disse não acreditar que o ex-ministro da Casa Civil compartilhe da máxima de que os fins justificam os meios, ''ainda que este seja um governo transformador'', defendeu.

- Tenho dificuldade em acreditar que alguém que dedicou sua vida a uma idéia viesse aos 60 anos cuspir na sua biografia por corrupção eleitoral.

Para o relator do processo contra Dirceu, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o depoimento do jornalista não contribuiu para esclarecer os fatos investigados.

- Ele praticamente não conviveu com o ministro da Casa Civil nesse período investigado, apenas teve dois encontros sociais. A testemunha não tem ligação com os fatos que temos de elucidar - concluiu.

O escritor lembrou ainda que, ao negociar com o PT o apoio do PMDB paulista a Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições de 2002, não teve conhecimento de oferta material do PT como contrapartida. Segundo Morais, o acordo não envolveu dinheiro nem pagamento de propaganda eleitoral.

O escritor e jornalista lembrou no depoimento que já confrontou o amigo ao longo da vida política. Nos anos 80, o jornalista foi secretário de Cultura do governo Orestes Quércia, do PMDB de São Paulo, enquanto Dirceu fazia oposição ''dura e sistemática'' como líder do PT na Assembléia Legislativa paulista.

Morais disse que já fora acusado pelo petista no passado, mas ainda assim aceitou depor a seu favor.

- Dirceu briga com todo mundo, é duro e difícil de trato. Mas é um adversário respeitoso, que nunca fez nenhum insulto pessoal. Não gostaria de tê-lo novamente como oposição - comentou.

O relator explicou a Morais que o conselho quer saber se Dirceu comandou ou não um esquema de captação e distribuição política de recursos públicos, e não se o teria feito em proveito pessoal.

Morais também evitou comentar se o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares teria sido o único responsável pelas operações atribuídas a Dirceu.

Durante o depoimento, o deputado Jairo Carneiro (PFL-BA) disse que Fernando Morais não tem condições de contribuir para esclarecer os fatos de que o ex-ministro é acusado. O jornalista respondeu que espera apenas contribuir para a formação de juízo pelos deputados.