Título: Gushiken discute na CPI
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, País, p. A8

Diferente do comportamento passivo de outros petistas nos depoimentos às CPIs, o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, Luiz Gushiken, reagiu ontem com firmeza às acusações sobre suposta ingerência nos fundos de pensão e nas licitações de publicidade do governo. Em depoimento na CPI dos Correios, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) deixou claro que é inimigo do banqueiro Daniel Dantas e bateu-boca com deputados. O questionamento do senador Heráclito Fortes (PFL-PI) sobre a briga entre os fundos de pensão e o Opportunity em torno do controle da Brasil Telecom foi o ponto alto do depoimento. Fortes quis detalhes sobre a espionagem que a multinacional Kroll ¿ contratada pelo banqueiro Daniel Dantas (dono do Opportunity) ¿ fez sobre autoridades do governo, entre eles, Gushiken, suspeito de intervir nos fundos.

O ex-ministro disse não ter tido acesso aos dados de espionagem e alegou ter interesse em se informar sobre os desdobramentos do conflito, que afirma ser a ¿maior disputa societária da história do capitalismo brasileiro¿. Gushiken fez questão de mostrar matérias de jornais contra Dantas e afirmou também que recomendou ao comitê de campanha do então candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, que não recebesse doações do empresário.

¿ Sugeri às pessoas do comitê que conhecia as práticas desse empresário nos fundos de pensão e que a postura ética dele poderia ser rompida muito facilmente ¿ disse Gushiken,

Dantas será ouvido pela CPI dia 21. As empresas de telecomunicações controladas pelo Opportunity são apontadas como as principais depositárias das contas do empresário Marcos Valério de Souza.

Durante a sessão houve bate-boca quando os deputados Onyx Lorenzoni (PFL-RS) e Eduardo Paes (PSDB-RJ) questionaram Gushiken sobre sua influência nos fundos, quando estava à frente da Secom. A suspeita é de que algumas entidades da previdência teriam contribuído para o caixa dois do PT.

¿ Para o senhor me acusar de formação de quadrilha, o senhor apresente provas ¿ respondeu indignado ao deputado pefelista.

Gushiken disse que mantém ligação antiga com os fundos e teve contato freqüente com dirigentes de três deles. Mas, segundo ele, é uma ¿insanidade técnica¿ e ¿fantasia¿ dizer que ele tinha alguma interferência para desviar recursos.

O ex-ministro atribuiu a ¿denúncias infundadas¿ sua perda do status de ministro e garantiu ¿assumir a responsabilidade política por eventuais falhas que podem ter ocorrido na Secom¿. Sem citar nomes, Gushiken admitiu que o PT e o governo cometeram atos ilícitos que não podem ser repetidos.

O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) questionou Gushiken sobre o envolvimento da Secom com o esquema do ¿valerioduto¿, através de um suposto favorecimento das agências de Valério nas licitações públicas. Gushiken reagiu com indignação afirmando que as licitações ¿respeitam a Lei e com direito de apresentação de recurso pelos participantes.¿ Ele também negou gastos excessivos de publicidade.