O Globo, n. 32729, 17/03/2023. Política, p. 6

Torres chama minuta do golpe de “texto folclórico” e ''loucura''

Mariana Muniz
Rafael Moraes Moura


Em depoimento prestado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ontem, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres classificou a chamada minuta golpista como “texto folclórico”, “loucura” e “lixo”.

Segundo o GLOBO apurou, Torres, que está preso desde o último dia 14 de janeiro em virtude dos atos golpistas de 8 de janeiro, disse desconhecer a autoria do material — que foi encontrado em sua casa pela Polícia Federal. O ex-ministro, que ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do DF, também afirmou que não tratou da minuta com Bolsonaro, repetindo o que já havia dito à Polícia Federal. Segundo o blog da jornalista Malu Gaspar, ele insistiu que o documento não foi entregue ao ex-presidente da República e alegou apenas que recebeu o documento de sua assessoria, mas sem dar o nome de ninguém..

O ex-ministro prestou depoimento durante uma hora e meia, no âmbito da ação que tramita no TSE a respeito de uma reunião do expresidente com embaixadores, na qual realizou uma série de ataques ao sistema eleitoral. A chamada minuta golpista encontrada na residência de Torres foi incluída no processo por determinação do corregedorgeral da Justiça Eleitoral, Benedito Gonçalves.

O texto criava um certo “Estado de Defesa” no TSE, dando poderes ao ex-presidente Jair Bolsonaro para interferir na atuação da Corte — o que é flagrantemente inconstitucional.

Ele procurou minimizar a gravidade do episódio: disse que só tinha lido o início da minuta, sem fazer a leitura de todo o documento. “Comecei a ler, era uma loucura”, desconversou, segundo relatos. E insistiu na tese de que a minuta havia sido guardada em sua casa para “descarte”. Admitiu, contudo, que não era comum receber esse tipo de documento durante o período em que atuou no governo Bolsonaro.

Ao final do depoimento, a defesa de Jair Bolsonaro avisou que pediria ao TSE para que o teor da fala de Anderson Torres fosse mantido sob sigilo. Antes, os advogados do expresidente haviam tentado impedir a realização da oitiva. A ação, chamada de “Aije dos embaixadores”, é a mais avançada em andamento da Justiça Eleitoral contra Bolsonaro e pode levar à inelegibilidade do ex-mandatário por abuso de poder político.

Torres está preso no âmbito de inquérito sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O ex-secretário é suspeito de omissão na condução das forças de segurança pública em 8 de janeiro, quando extremistas invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes.