O Globo, n. 32730, 18/03/2023. Economia, p. 14

No primeiro mês do governo Lula, taxa de desemprego fica estável

Carolina Nalin


O mercado de trabalho brasileiro começa a perder dinamismo neste início de ano. A taxa de desemprego ficou em 8,4% no trimestre encerrado em janeiro, com 9 milhões de brasileiros em busca de uma vaga, segundo dados divulgados pelo IBGE. O resultado representa uma estabilidade em relação à taxa do trimestre encerrado em outubro, quando ficou em 8,3%.

Apesar do contingente estável de desempregados, o número de ocupados, porém, acende um alerta. Um milhão de trabalhadores deixaram seus postos no período, cravando o primeiro recuo da ocupação, na série comparável, desde o trimestre encerrado em julho de 2020. Uma espécie de prenúncio da perda de tração que os economistas projetam para o mercado de trabalho sob o primeiro ano do governo Lula.

Rodolfo Margato, economista da XP, projeta que o emprego irá enfraquecer nos próximos meses na esteira da perda de dinamismo dos setores mais sensíveis ao ciclo econômico:

“De acordo com as nossas previsões, a taxa de desemprego dessazonalizada (descontados os efeitos sazonais) atingirá 9% no final de 2023, após 8,2% no final de 2022”, escreveu, em comentário.

— Vamos ver uma estabilização desse atual nível de desemprego, com algumas flutuações no ano. Com crescimento baixo, inflação ainda pressionada e cenário externo desfavorável, dificilmente vamos ver muita mudança (na taxa de desemprego), apesar de estímulos de demanda pontuais — resume Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV Ibre.

Há a visão entre especialistas de que a taxa de desemprego se encontra em níveis mais baixos muito mais em função da taxa de participação que não avança, do que pelo crescimento do emprego. Esse indicador mede a população em idade de trabalhar, e aponta que uma parcela significativa dos trabalhadores aptos a trabalhar não estão procurando emprego depois da crise sanitária. A taxa de participação está em 62%, abaixo do nível pré-pandemia (63,5%).

Gabriel Couto, economista do Santander, espera que o mercado de trabalho siga desacelerando à frente, mas sinaliza que a continuidade de uma baixa taxa de participação implica em risco de queda para as projeções para a taxa de desemprego.

Duque, do FGV IBRE, explica que a redução do poder de compra dos salários e a expansão dos programas sociais entre 2021 e 2022 influenciaram na queda da participação na força de trabalho. E, segundo ele, o recente movimento de elevação dos salários leva um tempo até ser observado pelo trabalhador de forma que ele decida, então, voltar ao mercado.

O economista avalia que o aumento do orçamento do Bolsa Família deve dificultar a volta da taxa de participação ao nível pré-pandemia, ainda que seja esperada uma pequena elevação da taxa devido às altas de salário recentes:

— Estamos com uma baixa geração de empregos e as flutuações no número de pessoas procurando trabalho acaba influenciando muito. E isso mexe com as taxas de participação e de desemprego.

O contingente de ocupados registrou queda de 1 milhão, em relação ao trimestre terminado em outubro. Isso totaliza 98,6 milhões de pessoas ocupadas no período.

Segundo Adriana Beringuy, é difícil ponderar quanto da saída de 1 milhão de trabalhadores da ocupação está associada a um fator sazonal de início de ano, e o quanto isso pode ser oriundo de um processo de desaquecimento da economia. O desempenho do mercado de trabalho daqui pra frente dependerá da dinâmica da atividade, diz a pesquisadora:

— Passado esses meses de janeiro e fevereiro, que ainda têm sazonalidade e efeito-calendário, vamos ter (o comportamento da taxa de desemprego) um pouco mais claro. (...) A taxa só não expandiu agora porque a pressão sobre o mercado de trabalho foi mantida na estabilidade.

Pela metodologia do IBGE, só é considerado desempregado pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e estão em busca de uma oportunidade.

A taxa de desemprego deve subir no primeiro trimestre pela histórica questão sazonal. Já a dinâmica no restante do ano vai depender do que for feito diante das incertezas de curto prazo, não dá pra esperar uma grande queda do desemprego.

A pesquisa também apontou que o rendimento real, descontado a inflação, permanece avançando. No trimestre encerrado em janeiro, cresceu 1,6%, para R$ 2.835.

— Há alguns trimestres observamos um crescimento importante no rendimento dos trabalhadores, com o trimestre encerrado em janeiro sendo a terceira observação — destaca Beringuy.

O economista Sandro Sacchet, técnico do Ipea, destaca que, embora a renda ainda esteja inferior ao período pré-pandemia, a Pnad tem apontado para um crescimento na renda desde o ano passado, movimento que deve se seguir nos próximos meses. Ele acrescenta ainda que o reajuste do salário mínimo e dos servidores federais também deverão contribuir para o aumento do rendimento.